Em tempos em que uma galera empolgada se apressa em dizer que a superestimada La Casa de Papel é o suprassumo da televisão contemporânea assistir a Le Chalet é quase um alívio para mentes que procuram algo mais.
Não, não estamos falando de um programa de tv com uma virtudes indizíveis ou com roteiro cheio de tramas super inteligentes ou até mesmo linguagem vanguardista. Muito pelo contrário, pois ela aposta numa trama que em poucos minutos entrega (e aparentemente o faz sem querer) o plot twist que só deveria ser demonstrado lá pro final de sua execução (pelo quinto ou sexto episódio).
A questão que a pode elevar em consideração a outras ações televisivas atuais é que não se quer mostrar algo que não está lá. Não se tenta convencer o espectador de que as atuações dos atores e atrizes é algo fabuloso ou que há uma inteligência (tanto no argumento escrito quanto nas personagens) que lá não existe.
Le Chalet é uma minissérie de origem francesa que foi comprada pela Netflix nos mesmos moldes do que aconteceu com The Sinner ou com o já citado La Casa de Papel e a empresa jogou em sua própria plataforma como se dela fosse um produto original.
Todos os atores entregam atuações aceitáveis e há núcleos bem definidos entre os jovens, os adultos e esses mesmos núcleos num período vinte anos mais cedo quando uns ainda eram crianças e outros eram adultos mais jovens. Sim, há uma tentativa (não se sabe se proposital ou não) de fazer algo que Dark fez muito bem um ano atrás com uma linha temporal em que eventos do passado e eventos do presente estão sendo contados ao mesmo tempo. Funciona, mas demora para se familiarizar com todos os personagens e identifica-los. Mesmo assim não há nada disso que atrapalhe a evolução de quem visualize o programa.
Outra coisa que funciona é que o clima bucólico da cidade onde a trama ocorre ajuda bem na atmosfera sombria e sempre sedenta por uma explicação mais à frente. Isso proporciona também que nós testemunhemos um sentimento de melancolia em quem mora ali e há uma tristeza escondida em todos que viveram os eventos passados e que agora parecem revivê-los aos poucos.
O mote todo é que alguns amigos se reúnem num chalé de um vilarejo afastado nos alpes franceses para participarem do casamento de um antigo amigo da região. Sabemos aí que uma boa parte dos convidados foi morador dali quando mais novos e que algo os afetou lá atrás. Ao mesmo tempo que isso ocorre no agora é mostrado como eles eram vinte anos antes e alguns eventos com uma família que não aparece mais no tempo presente (por alguns motivos que serão conhecidos depois na série) acabam por ser intercalados a isso tudo.
Ahhh!!! também há uma terceira vertente dessa linha temporal mostrada com um único personagem que vai se revelando conforme vão passando os seis episódios da minissérie.
Um acontecimento ao fim do primeiro episódio atrapalhará o casamento e todos terão que se aguentar juntos no mesmo lugar enquanto lutam para sobreviver.
Há alguns defeitos na produção como o desaparecimento momentâneo de alguns personagens e o reaparecimento tempos depois sem que haja uma explicação plausível ou o subaproveitamento de personagens interessantes como o misterioso Alexandre, mas o que incomoda mesmo é um ou outro furo no roteiro ou algumas soluções preguiçosas para podermos desvendar alguns mistérios (se bem que vários deles nem mistérios são).
Porém, mesmo com tantas falhas ali e aqui ainda assim você tem como objeto final uma boa produção feita para adultos que querem um suspense honesto e com certa qualidade dramatúrgica. Não se ofende o espectador com algo mirabolante que apenas quer impressionar dentro de um vazio argumentativo ou se tenta cativar quem assiste com edição publicitária que busca apenas cortes rápidos de videoclipe.
Portanto, Le Chalet pode não ser a última grande novidade do último final de semana, mas também não é falso quanto o monte de porcaria que nos surge dia após dia com coisas que beiram produtos juvenis com cara de inteligência acima da média. Assista, mas faça isso para se divertir por umas seis horas, nada mais que isso.
PS – A abertura é um deleite (tanto no visual quanto em sua música).