“O dia em que o Rock Morreu” é um livro para quem está disposto a compreender

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Eu tenho uma relação de amor e ódio com André Forastieri desde os áureos tempos da Revista Bizz.

Explico: o Forastieri é um jornalista especializado na cultura jovem que não realiza concessões com bandas e artistas de nenhuma categoria. Ele emite sua opinião e não omite nada durante a crítica. Pode soar pesado a alguns, mas nunca pode ser considerado tendencioso.

Naquela época em que eu assinava a Bizz aguardava ansiosamente pela chegada da revista para analisar qual era o disco do mês que seria resenhado pelo tal jornalista. Ás vezes, ficava emputecido, em outras apenas concordava.

O tempo foi passando, eu amadureci como pessoa e como analista de arte ao mesmo tempo que passei a concordar mais com Forastieri e perceber nele uma parcela da imprensa que falta por aqui no Brasil.

Adoro odiar os textos dele, pois a partir deles eu consigo visualizar uma terceira via de entendimento no objeto de discussão.

Já são celebres alguns artigos do André sobre inúmeros assuntos, mas vou citar apenas três:

* O primeiro dizia respeito ao ídolo do metal Ronnie James Dio, um dia após a morte dele. Qualquer fã esperaria uma ode ao cantor já que sua contribuição ao rock não é das menores. Pois foi exatamente o contrário que se deu no texto do jornalista.

Provavelmente, deva ter sido o dia em que mais gente odiou o Forastieri por conta de sua avassaladora análise dos fãs do roqueiro, mas ninguém pode desqualificar o texto já que ele estava cheio de verdades sobre o comportamento dos metaleiros.

* o segundo texto do qual me lembro era acerca do filme “12 Anos de Escravidão”. André desce a lenha na película ao afirmar que essa é o inverso do que estava vendendo ao público. Havia no filme, segundo o jornalista, um preconceito muito maior do que qualquer outro realizado por um branco. Forastieri lista, inclusive, uma série de motivos para não assistir ao ganhador do Oscar deste ano. Desceram o pau em André mais ainda pelo fato de que ele mesmo dissera que não havia assistido e nem assistiria ao filme.

Pois bem, dias após o artigo dele sai uma matéria na imprensa americana com um perfil e uma entrevista do roteirista do filme, mostrando o quanto ele era um “branco” disfarçado de negro e como isso afetava o resultado final do filme. Mais um ponto para André.

* o terceiro texto polêmico de Forastieri dizia respeito ao Lobão e ao Mano Brown. Era um texto repleto de detalhes de como o discurso do cantor filho dos anos 80 do rock brasileiro se tornou um marqueteiro cheio de rancor com a esquerda. A análise sobre a briga dos dois artistas promove uma discussão acerca do momento da música nacional e também a respeito das decisões do movimento contra e pró governo. Não foi contra nem a favor de nenhum dos dois cantores, apenas listou o que acontecia, analisou aquilo que achava razoável em cada declaração de ambos e ponto.

Desse modo, não ha como passar despercebido o lançamento do livro “O Dia em que o Rock Morreu” (Editora Arquipélago).

Segundo palavras do próprio André Forastieri, trata-se de uma obra para “pregar o último prego no caixão de um mundo que se foi. Para enterrar meu passado – e celebrá-lo”.

Quem não gostou tanto do título quanto do conteúdo do livro é por que não o leu de verdade.

O livro do jornalista, atualmente ativo com uma coluna muito boa no site R7, é para ser compreendido, é para ser degustado com amor e ódio e engolido aos poucos.

Não é fácil pedir isso para as viúvas do Kurt Cobain ou para os metaleiros que não entenderam o artigo sobre o Dio, mas não custa lembrar que o rock da maneira como o conhecemos décadas atrás não existe mais mesmo. É mais do que uma provocação vazia do autor, torna-se um produto de estudo para que as futuras gerações pesquisem e analisem o que de fato mudou nesse período.

O livro reúne 40 textos curtos do jornalista desde os anos 1990, e perpassa a carreira de Forastieri pelos locais onde trabalhou. Desde a já citada Bizz, passando pela Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Portal G1, Revista General e o atual R7.

A seleção de textos é ótima e condensa justamente o que Forastieri possui de melhor: sua acidez e facilidade para produzir boas críticas num espaço curto de linhas. Não chega a ser um mestre da escrita jornalística como o era Paulo Francis, mas já chega a picos próximos do cronista já falecido, pois é detentor de uma verve difícil de encontrar. Soa muitas vezes como um provocador, mas sabe se explicar para não ficar apenas na análise pesada.

Ele situa toda a trajetória da música jovem durante a sua carreira através das diversas mortes que acompanharam o nicho. Os artistas que não completaram 30 anos, as gravadoras que não se sustentaram durante esse período, a internet que matou a venda de CDs, a pirataria que advém da explosão da WEB e até o rock brasileiro que para ele “nunca foi rock”.

Quem não entendeu André até agora pode ser que não tenha nenhuma alteração com a leitura do livro. mas quem está aberto ao diálogo pode se deliciar com a força de sua escrita e da facilidade de suas palavras demonstrarem o que quer dizer.

Portanto, dê uma chance para este livro, leia-o!

HQ “Yeshuah” tenta descanonizar a figura de um ícone religioso

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O indivíduo Jesus Cristo quase não é analisado por obras artísticas já que sempre há uma aura brilhante pairando sobre a cabeça do rapaz judeu.

Dai que quando surge qualquer possibilidade de visualização diferente desta figura histórica e religiosa é um tremendo problema para seu autor, pois os fieis seguidores do mito Jesus sempre acharam erros e desrespeitos neste procedimento. Por outro lado, é uma maneira possível de qualquer artista se empolgar na tentação de efetuar tal situação.

O quadrinista brasileiro Laudo Ferreira se debruçou nos últimos treze anos sobre a HQ “Yeshuah”, que virou série e chega ao seu último volume agora.

Esta terceira parte “Yeshuah: Onde Tudo Está” (Devir) sucede “Yeshuah: Assim em Cima, Assim Embaixo” e “Yeshuah: O Círculo Interno, O Círculo Externo”, também lançados pela Devir.

Neste volume final a HQ acompanha a epopeia de Jesus a Jerusalém e acaba por acompanhar as situações envolvendo a Páscoa, a última ceia, a prisão, o julgamento e sua execução.

A questão é que ele não se baseia somente nos textos bíblicos conhecidos do grande público, mas se depara com ações que foram pesquisadas nas narrações apócrifas que surgiram ao longo do tempo e que não são usados pela Igreja para que não haja uma desmistificação do líder religioso.

A obra de Ferreira também se atém a fatos que idealizaram uma imagem sagrada a Jesus. O apedrejamento da mulher adúltera e a ressurreição Lázaro são apenas alguns dos exemplos acerca disso.

Laudo também se baseia na sua própria análise individual, e demonstra uma tentativa de aproximar o cânone criado pela Igreja para um lado mais humano, que possui suas imperfeições como qualquer outra pessoa.

Num entrevista realizada pelo portal UOL Laudo Ferreira explicou que “à princípio a ideia (de escrever sobre um líder religioso) é difícil, pois a história de Jesus está enraizada na cultura humana como ícone religioso, católico. Porém, há a possibilidade de despir sua figura dos mitos religiosos, para que que qualquer um possa enxergar um homem forte, com toda uma mensagem para que cada um trabalhe e encontre o sagrado em si.”

Dessa forma, “Yeshuah…” é uma HQ como outra qualquer, mas que mostra a possibilidade de a arte ser um instrumento de questionamento. Ou como nas palavras do próprio autor, “o objetivo da arte é curar. Em qualquer sentido. A arte tem que trazer o poder curativo, mesmo que muitas vezes esteja numa atitude de instigar, mas que instigue a mudança e a mudança sempre traz um momento posterior, de novos entendimentos.”

O Metal em alta: Obituary com música nova e shows confirmados de Exodus e Ghost por aqui

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O Metal está em alta novamente já faz algum tempo, mas as notícias a favor do gênero roqueiro tem pululado mais nos últimos dias. Principalmente, se incluirmos o mapa do Brasil na roda.

A primeira manchete vem lá dos festivais potentes que ocorrem sempre neste mesmo período todos os anos.

O Obituary, com o histórico que tem, não foge à regra e brindou seus fãs com uma canção nova, “Inked in Blood”, no Hades Stage Copenhell, na Dinamarca.

O evento, que neste ano aconteceu no último dia 13 de junho, também contou com a presença de outras bandas como Arch Enemy, Graveyard, The Hell, Iron Maiden, Within Temptation, Suicide Silence e Týr.

“Inked in Blood” – Obituary
http://youtu.be/GW6zB3NwK5s

Já a clássica banda Exodus confirmou a sua turnê pela América do Sul, que contará com três apresentações em terras tupiniquins.

A nova passagem da banda californiana que bate cabeça desde 1979 pelo mundo afora acontece por aqui nos dias 01/10, 04/10 e 05/10, sendo os locais confirmados para Botequim, na cidade paraense de Belém, no Carioca Club em São Paulo e Circo Voador, no Rio, respectivamente.

É bem provável que o grupo americano mostre algo do próximo disco, que deve sair ainda neste ano, e que sucederá “Exhibit B: The Human Condition”, de 2010.

Downfall – Exodus
http://youtu.be/u95JTXzyHyA

Por fim, fica a torcida para que a notícia saída hoje no jornal Destak de São Paulo, seja verdade.

Diz respeito à banda sueca Ghost e sua provável vinda para a América do Sul daqui a dois meses.

Os shows seriam no meio do mês de agosto e seria a segunda vez em que o grupo viria ao continente.

A primeira teve ser término durante o último Rock in Rio e logo depois numa apresentação em São Paulo no fim de setembro do ano passado.

Elizabeth – Ghost
http://youtu.be/N4nWOXSjBwA

“Idênticos” não é tão parecido com os romances policiais dos dias atuais

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Não é segredo para ninguém que o escritor Scott Turow é um dos grandes autores do romance de tribunal desde quando escreveu “Acima de Qualquer Suspeita” (Editora Record – 1987).

O fato de ter sido adaptado ao cinema dois anos depois pelo cultuado diretor Alan J. Pakula também ajudou na fama e na facilidade para trabalhar do autor nascido em Chicago.

Vieram inúmeros outros títulos de sucesso como “Declarando-se Culpado” (Editora Record – 1993) e “O Inocente (Editora Record – 2011), sempre voltados à sua formação jurídica.

Hoje, ele já coleciona 11 livros, dentre os quais nove são romances de ficção, com todos sendo considerados best-sellers, tendo ultrapassado a marca de 30 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo. Aqui, no Brasil, o número já passa dos 350 mil, cifra expressiva para os níveis do país.

Com a nova empreitada de Turow chamada “Idênticos” (Editora Record – 2013), o sucesso prossegue sem muito esforço. A obra já ocupou o segundo lugar na lista de mais vendidos do New York Times em 2013 e a crítica acabou por fazer boas resenhas do livro que aposta num círculo envolvendo a política para promover discussões que desembocarão num thriller emocionante.

A trama é simples em seu início, mas vai se se desenhando um complexo jogo de interesses que é jogado com o único intuito de angariar poderes para seus competidores: o senador Paul Gianis é candidato à prefeitura do Condado de Kindle e seu irmão gêmeo idêntico, está prestes a sair da prisão, onde cumpriu pena por 25 anos após sua confissão de homicídio de uma ex-namorada.

O que ocorre é que nas vésperas da eleição nas vésperas das eleições, Hal, o irmão mais velho da namorada do irmão gêmeo do candidato a prefeito, explode uma suspeita que havia guardado para si durante todo o tempo em que a maioria das pessoas achava já estar diante de um crime solucionado.

Como tal suspeita pode atrapalhar os planos de Gianis começa uma investigação acerca da morte de 25 anos atrás e da nuances que protelam os julgamentos do leitor e os destinos dos principais personagens.

Como uma boa escrita, marca reluzente de Turow, e interessante forma de esconder as verdades por detrás da trama principal, “Idênticos” viaja numa robusta narração que envolve sexo, traição e violência, podendo a partir daí, demarcar a tênue linha entre a força do poder ilimitado e a ojeriza do que leva a isso.

Não é o maior e mais empolgante livro de Scott Turow, mas ganha da maioria das obras atuais por não apostar em clichês derrotados há anos e por saber interagir com o leitor sem que apenas o engane com detalhes inócuos.

“Idênticos” é, portanto, um livro para ler sem ter vergonha de sua simplicidade, mas que não deixa a desejar no que promete entregar: um thriller de suspense, reviravoltas inteligentes e superação à realidade da literatura policial atual. Não é genial, nem tampouco obsoleto.

“O Anel do Nibelungo”: A Obra Clássica de Wagner

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O estudo da biografia de Richard Wagner é simplesmente fascinante. Não somente pelo fato de ter sido um artista completo, tendo atuado como maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta, mas também pelo seu reconhecido perfeccionismo alemão e as conturbações pelas quais passou ao longo da vida.

O artista nascido nascido em Leipzig em 1813 fez o que fez apesar de viver até suas últimas décadas de vida em exílio político, às turras com inúmeros amores turbulentos, a infância de pobreza e a fuga ininterrupta de seus credores.

De qualquer forma, o impacto de suas ideias ainda pôde ser sentido em muitas manifestações artísticas ao longo de todo o século XX.

Mas isso seria tema para um livro e não um simples post. Mesmo assim, é importante citar tais nuances para compreender a excelência do trabalho do compositor.

A escolha de “Der Ring des Nibelungen” (O Anel do Nibelungo) para escrever este artigo faz sentido pela sua complexidade. Trata-se de um ciclo de quatro óperas épicas que ele realizou a partir das adaptações dos personagens mitológicos das sagas nórdicas e do Nibelungenlied.

Wagner escreveu o libreto e a música por cerca de vinte e seis anos, de 1848 a 1874. As óperas que compõem o ciclo do anel são, em ordem cronológica do enredo: Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses). Apesar delas serem apresentadas como obras individuais, a intenção de Wagner era apresentá-las em série.

A primeira apresentação de todo o ciclo aconteceu em Bayreuth, 13 de agosto de 1876. Das Rheingold já havia estreado em Munique em 1869, a contragosto do autor.

O ciclo é modelado assim como os dramas do teatro grego em que eram apresentadas três tragédias e uma peça satírica. A história do Anel propriamente dita começa com Die Walküre e termina com Götterdämmerung, de forma que Das Rheingold serve como um prelúdio.

A música do ciclo é forte, e cresce em complexidade com o desenrolar da história. Wagner escreveu para uma orquestra de grandes proporções, incluindo novos instrumentos como a trompa wagneriana, o trompete baixo e o trombone contrabaixo.

A obra tomou tanta atenção do autor que ele chegou a construir um teatro para apresenta-la ao público. O Bayreuth Festspielhaus possuía um palco especial que combinava os sons da orquestra e dos atores, permitindo-os cantar naturalmente.

A medida por parte de Wagner se tornava uma solução para os altos custos da execução da ópera. Como a apresentação completa do ciclo dura cerca de quinze horas, através de um tema épico seria um investimento muito audacioso para outras casas arcarem com as despesas.

Durante o período todo da obra há vários deuses, gnomos, e outras criaturas mitológicas em volta do anel mágico cuja posse garante poder sobre todo o mundo. O drama e a intriga continuam por três gerações de protagonistas.

Wagner criou a história do anel ao fundir elementos de diversas histórias e mitos das mitologias germânica e escandinávia. Os Eddas forneceram material para Das Rheingold, enquanto Die Walküre é amplamente baseada na Saga dos Volsungos. Siegfried contém elementos dos Eddas, da Saga dos Volsungos e da Saga Thidreks. A ópera final, Götterdämmerung, é baseada no poema do século XII Nibelungenlied, que foi a inspiração original para o Anel.

Ao agregar tais fontes numa história concisa, Wagner também acrescentou diversos conceitos modernos. Um dos principais temas do ciclo é a luta do amor, o que está associada à natureza, e liberdade, contra o poder, o que está associada à civilização e à lei.

No que diz respeito à parte musical há uma mudança sensível em relação às suas óperas anteriores.

Em “Der Ring des Nibelungen” Wagner procurou evitar o uso do recitativo. Para esta obra específica, ele decidiu abolir seu uso completamente e adotar um estilo mais contínuo, em que cada ato de cada ópera seria uma peça musical contínua, sem qualquer intervalo.

Posteriormente, em seu ensaio Oper und Drama (Ópera e Drama), ele consegue sintetizar o que quis com aquilo. Wagner descreve a forma como poesia, música e artes visuais devem ser combinadas para formar o que chama “o trabalho artístico do futuro”. Ele nomeia tais obras como “dramas musicais”, e desde então raramente se referiu a seu trabalho como ópera.

Como nova fundação para esses dramas musicais, Wagner adotou o uso dos temas-base, conhecidos como leitmotiv, algo que consistia na melodia e em progressões harmônicas recorrentes, procedimento que era acompanhado por alguma orquestração.

A função disso era mostrar uma ação, objeto, emoção, personagem ou qualquer outro tema mencionado no texto ou apresentado no palco de forma clara e explícita, era uma maneira de chamar a atenção do público. Wagner os referia em Oper und Drama como guias para o sentimento, descrevendo como eles podiam ser usados para informar o ouvinte sobre um ponto paralelo da ação acontecendo, assim como o coro era usado no teatro da Grécia antiga.

Apesar de outros compositores anteriores já usarem a técnica, é essa obra musical de Wagner a única conhecida pela amplidão da utilização, além da engenhosidade em combinar as partes e manter um desenvolvimento coeso e coerente.

A separação dos quatro ciclos se realiza da seguinte maneira:

Das Rheingold

O centro da história é o anel mágico forjado pelo anão Alberich, o nibelungo do título, a partir do ouro roubado do rio Reno quando as donzelas do Reno se distraíram. Diversas personagens míticas lutam pela posse do objeto, incluindo Wotan, o chefe dos deuses. Os acontecimentos são bastante influenciados pelos planos dele, que leva gerações para superar as próprias limitações.

Die Walküre

A valquíria Brünnhilde, a mais querida das nove pelo pai Wotan, é o tema da segunda ópera. Como as irmãs, é encarregada de levar para o Valhala as almas dos guerreiros mortos. Ela hesita em obedecer ao pai, separando os irmãos-amantes que são filhos do Walsung, o próprio Wotan em forma de lobo. A morte de Siegmund é exigência da deusa da fidelidade conjugal, Fricka. A criança que nascerá da união ilegal é Siegfried. O castigo de Brunhilde é dormir cercada por um círculo de fogo, até que alguém que não tenha medo venha resgatá-la.

Siegfried

Em Siegfried, o filho de Siegmund e Sieglinde já é um jovem, que foi criado pelo anão Mime. Em Götterdämmerung, depois das cenas das nornas, que perdem a capacidade de ver o destino, Siegfried se despede de Brünnhilde para partir a novas aventuras.

Götterdämmerung

Brünnhilde descobre ter sido traída pelo próprio Siegfried, embora não saiba a razão, e o acusa em público. Ela revela a Hagen como assassiná-lo – pelas costas.

Um espetáculo que deve ser assistido por aqueles que apreciam uma obra mais complexa na qual a música não é apenas o único motivo para se estar ali. Há muita dramaticidade e a história tem uma levada que promove uma maior atenção de todos que a presenciam.

Uma ótima maneira também de introduzir pessoas leigas à ópera e à música clássica, mesmo que o alcance a essas manifestações artísticas seja muito difícil.

Abaixo, uma palhinha da apresentação no próprio teatro construído por Wagner na condução de Daniel Barenboim e filmado por Harry Kupfer:

Trailer da incursão cinematográfica dos Cavaleiros do Zodíaco é para deixar saudosos fãs empolgados

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Inicialmente chamado de “Saint Seiya – Knights of the Zodiac”, o filme será uma adaptação para os cinemas da saga “Cavaleiros do Zodíaco”.

Agora com o nome definitivo, ao que parece, “Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário” é uma produção totalmente japonesa que aposta na computação gráfica de última geração para levar às telas grandes o desafio de manter viva a chama em torno do anime dos anos 90 que fez muito sucesso por lá e virou febre na comunidade geek brasileira.

O longa tem a direção de Keichi Sato e a supervisão técnica de Masami Kurumada, criador da série original.

A trama gira em torno do confronto dos Cavaleiros de Bronze com os Cavaleiros de Ouro em nome de Saori Kido, a reencarnação da deusa grega Atena.

Nas redes sociais havia muita polêmica e discussão por conta das eventuais datas de estreia do filmes, mas ao que tudo indica, ficará mesmo para setembro deste ano, período em que se comemoram os 20 anos da primeira exibição do anime no Brasil, realizada na TV Manchete no dia 1º de setembro de 1994.

Na verdade, o anime já havia terminado a saga anteriormente no Japão, pois fora produzido pela Toei Animation de 1986 a 1989.

Por sua vez esta também era uma adaptação de um mangá de mesmo nome escrito e ilustrado por Masami Kurumada, publicado na revista Weekly Shōnen Jump que perdurou por mais tempo, de 1986 a 1991.

Veja abaixo o último trailer do filme:

Mais um diamante escondido da KEXP. O Temples ao vivo sendo fantástico sem esforço

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O pocket show aconteceu em abril nos estúdios da fantástica e favorita da casa KEXP FM, rádio indie de Seattle, e passou despercebido pelos olhos quase sempre atentos do Blog.

A banda de James Edward Bagshaw, que parece ter saído de uma máquina do tempo, diretamente dos anos 60, foi recebida nos estúdios da rádio da terra do Nirvana para bater um papo com o locutor Kevin Cole, host do programa “KEXP Live”.

Durante os trinta e poucos minutos em que ficaram no ar, eles disseram que era sua primeira vez na cidade, falaram a respeito de seu consagrado e maravilhoso álbum “Sun Structures”, além de comentaram sobre suas influências (The Byrds, The Beatles e todo o rock psicodélico daquela época, principalmente). Ah claro, também executarem algumas de suas pérolas sonoras.

O set completo incluiu, na sequência, a música título do disco, “Sun Structures”, a viajandona “Move in the Season”, a densa baladinha “Keep in the Dark” e finalizaram com a já clássica “A Question isn’t Answered” e o petardo “Shelter Song”. Uma maravilha!!!

A visita aos estúdios da KEXP tinha uma razão óbvia: os caras se deram muito bem no tour realizado pelos EUA nos meses de abril e maio que mesclou apresentações solo e participações em alguns dos melhores festivais da primavera do Tio Sam.

Nestes últimos dias, o grupo de Northamptonshire tem pulado de país em país da Europa dia após dia, numa correria danada.

Amanhã, por exemplo, eles se apresentam na cidade croata Hvar, depois pousam nos palcos do tradicional festival Glastonbury, para depois passarem por França e Portugal.

Que possa sobrar um tempinho no segundo semestre para que passem pela América do Sul.

Abaixo, fique com a apresentação completa do Temples:

A banda Vök prova que a Islândia é um país sonoro

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O Vök foi formado em janeiro de 2013 pela cantora Margrét Rán e o saxofonista Andri Már.

Eles já trabalhavam juntos desde o início de 2011 e sentiram no ano passado que era a hora certa para se apresentarem para o público em geral.

Para a introdução dessa nova banda eles usaram o “The Iceland Music Experiment”, conceituado concurso islandês de música que já havia revelado anos antes o Of Monsters And Men. Foi um sucesso tão grande que iniciaram turnê pelo pequeno país logo em seguida.

Desde então eles não pararam tendo tocado em muitos dos maiores festivais da Islândia.

O duo acabou por se tornar um trio durante o gelado verão de 2013, com a introdução do guitarrista Ólafur Aleksander. Dessa forma, os fundadores da banda sentiam a necessidade de dar mais corpo à sua música em cima do palco.

As bases eletrônicas acabaram por ganhar mais densidade com a inclusão da guitarra e os samples se tornaram mais vibrantes para o acompanhamento à voz de Margrét. Aliás, esse é um dos pontos fortes do Vök, pois assim como o vocal de Nanna Bryndís Hilmarsdóttir do Of Monsters, e por meio da potência da garganta de Margrét que as ilustrações musicais do Vök promovem uma estatura maior em seu ritmo bem executado pela guitarra e pelos samples.

O sax de Andri Már acaba por ser uma lacuna sonora entre a ambientação eletrônica que faz as vezes da bateria também, as bases de guitarra e o instrumento natural de Rán.

Numa influência que vai do Chvrches ao The XX, o futuro do grupo islandês parece ser brilhante no cenário mundial, já que pode captar os fãs da outra banda famosa da ilha e deve empolgar o público indie já acostumado com essa sonoridade.

Veja abaixo um trecho da apresentação que o grupo fez na Islândia recentemente:

“O Nobre Deputado” é o relato de como nasce a corrupção no legislativo brasileiro

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“O Nobre Deputado” (Leya Brasil) é um livro seco e direto e não trabalha com suposições. Ele acusa e prova estar certo.

Isso simplesmente acontece por que se utiliza da verdade de um país envolto em corrupção.

O juiz Marlon Reis relata todos os meandros e negociatas aos quais a política brasileira é submetida para que a corrupção reine no Parlamento brasileiro.

Por meio de conversas com inúmeras pessoas e um ex-deputado federal, são detalhados o funcionamento da corrupção no Legislativo e a manifesta facilidade com que ocorre a compra de votos na política nacional.

Apesar de ser relativamente fácil visualizar de quem se tratam as pessoas as quais se refere Reis, ele foi esperto o suficiente para deixar todos os nomes das pessoas envolvidas nos casos contados durante o livro no anonimato. Ora utiliza nomes fictícios ora simplesmente não diz o nome.

Por conta desse procedimento adotado por Marlon Reis, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), decidiu representar contra o magistrado no Conselho Nacional de Justiça. Entretanto é o próprio nome dado à categoria do livro que salvaguarda a liberdade de expressão do juiz. A obra tem sido vendida como ficção e, deste modo, não pode ser importunado por uma ação do parlamentar.

Ele, inclusive, criou o personagem Cândido Peçanha (uma alusão aos termos “ingênuo” e “peçonha”?) para designar um dos personagens acompanhados pela obra.

Como Reis é um dos defensores e trabalhou diretamente no projeto que acabou por se transformar na Lei da Ficha Limpa ele já estava calejado para se defender de seus detratores.

Por outro lado, deve haver uma foto dele com alvo no quarto de cada político ladrão que existe neste país.

Trata-se, portanto, de um livro corajoso, escrito de maneira bem inteligente e criativa por um homem que se inteirou bastante acerca do tema e o nojo causado por isso o levou a colocar em prática a ideia de relatar esse submundo da política nacional.

Num Brasil que luta para que a liberdade de expressão seja de fato respeitada e que o direito à manifestação está em xeque, a obra do juiz Marlon Reis cai como uma luva.

The Police: como o ego pode destruir o relacionamento de uma banda

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O documentário foi transmitido ontem pela HBO, mas há reprises programadas para HBO2 (18/06) e HBO novamente (23/06). Seja esperto e não perca.

O motivo é “Can’t Stand Losing You: Surviving The Police”, filme que segue a carreira da banda inglesa através da visão de Andy Summers.

Como se sabe, a grande maioria dos documentários sobre carreiras de bandas é sempre muito chapa-branca, mostrando toda a grandiosidade do grupo nos palcos pelo mundo e os motivos que fizeram seu sucesso ocorrer.

Com “Can’t Stand…” isso não acontece por um simples motivo: a narração realizada pelo antigo guitarrista do The Police promove uma bem-vinda autocrítica na avaliação das decisões tomadas lá atrás que fizeram com que a integração do super-trio viesse abaixo.

Na verdade, o documentário já é uma adaptação do livro de memórias do próprio Andy Summers, “One Train Later” (Thomas Dunne Book) que acompanha o músico desde suas primeiras incursões por outros projetos até o topo do sucesso com o Police e as brigas com os companheiros de banda.

Para quem não leu o livro ou assistiu ao filme é tentador o sentimento de que visualizará um sessão de porradas em cima de Sting (vocalista e baixista) e Stewart Copeland (baterista), mas como a introdução tanto do livro quanto do filme se dão com o começo conturbado da carreira de Summers, percebe-se logo que ele não alivia nem para si próprio, daí a rápida mudança de sensação do espectador para que a obra seja algo mais sincero, mais próximo da realidade.

Outro fato importante é que, apesar de todos os arranca-rabos entre os três, na época das turnês desgastantes e posteriormente pelos direitos do uso da marca “The Police”, os outros componentes não só apoiaram a realização do projeto do documentário como também participam ativamente de algumas cenas curiosas durante o reencontro e mini-turnê de 2008.

A direção fica a cargo de Andy Grieve e Lauren Lazin, que se utilizam bastante das imagens de arquivo do grupo, mas concentram muito da curiosidade da câmera em cima do saudosismo e do rancor não guardado de Summers.

A edição das imagens é perfeita e se torna uma ótima escolha narrativa ilustrar muitas das conversas do guitarrista acerca de sua história com os outros dois integrantes do Police com as fotos que ele mesmo guarda em seu acervo pessoal.

Para quem não sabe Summers é um exímio e criativo fotógrafo e possui um penca dessas imagens e filmagens da época em que militou no palco ao lado de Sting e Copeland. No documentário aparece um momento em que ele inaugura uma exposição dessas fotos com a presença dos antigos companheiros.

Portanto, é possível uma linearidade contextual quando são vistas as imagens que ele guarda com o evolutivo inflar de egos dos três músicos.

A narração de Andy vai sendo demarcada conforme vão passando os primeiros álbuns e o sucesso do grupo inglês cresce. Fala de maneira detalhada das festas do início de carreira, do excesso no consumo de álcool e drogas de todos eles, dos problemas familiares que adivinham desse exageram da banda e do desgaste que paulatinamente vai acontecendo com aqueles que eram amigos quando da formação do grupo.

As atividades em estúdio se transformam em uma guerra interminável de egos e não ha ninguém para abrandar tal fogo criado entre eles. Para a indústria fonográfica só havia o desejo de que eles não implodissem a banda e para os produtores e engenheiros de som só restava o empenho em terminar logo aquilo e fugirem logo daquela fogueira das vaidades.

Há uma certa Guerra Fria entre Sting e Summers, mas a aparência é a de que o problema mais sério era entre Copeland e Sting. Mesmo assim, sente-se na fala e nas entrevistas com Summers que ele é o mais perturbado com tudo o que aconteceu entre eles.

O próprio Summers admite durante a fita que Sting faria carreira solo mais dia menos dia, mas não esconde que sente saudade da banda como produto de um processo criativo.

Algumas cenas como a do encontro espontâneo (?) entre o guitarrista e um grupo de japas cantando num karaokê e a entrevista de Sting para Elvis Costello já valem a pena para os aficionados no grupo.

Entretanto, é a narração cheia de detalhes de Summers, contando como deteriorou-se sua relação com a mulher naquela época, que dá o tom do que é ser integrante da maior banda de seu tempo. Naquele momento, os caras desbancaram o mega-platinado “Thriller” Michael Jackson da Billboard e já havia quem os colocasse no mesmo patamar dos Rolling Stones.

Para quem não acredita é só assistir ao documentário e ver as imagens de então. O próprio surgimento da MTV foi impulsionado também pelo sucesso do The Police. Eles até viram garotos-propaganda da emissora.

Desse modo, o filme não é apenas o relato sobre a carreira da banda e os seus cinco discos de estrondosa repercussão. Há uma noção do contexto histórico musical para que se dê a devida relevância ao que as brigas fizeram com aquele encontro de grandes músicos.

O documentário “Can’t Stand Losing You: Surviving The Police” passa a ser a abertura de um diário que ficou escondido durante muito tempo e que agora, de posse de mais experiência e dotado de todo o rancor, arrependimento e saudosismo, passa a ser lido para outra pessoa pelo próprio escritor.

Pelo menos, fica a sensação de um final feliz na vida de Summers por conta de se saber que ele reatou com a antiga mulher e que vivem felizes hoje com seus filhos já crescidos. Algo comovente e quase impossível dentro do mainstream do rock mundial.

Portanto, esta película é um achado dentro da gama interminável de autobiografias que somente são depositários de elogios e um festival de demonstrações falsas de que o artista A ou B é sensacional “tanto no pessoal quanto no profissional”.

Acaba por ser tocante já que é notório através do filme de que ficou algo inacabado entre os três, mas parece que é só Summers quem quis demonstrar isso em público. Menos mal que os outros dois não se opuseram a tal ação.

Trailer do Documentário: