Férias com P.J. Harvey. Precisa mais?

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Por conta da correria nem deu para avisar antes, mais aí vai: o Blog Outros Sons entra em recesso de final de ano a partir de agora e volta apenas em 05 de Janeiro.

É óbvio que se houver alguma novidade, como esta maravilhosa notícia do retorno de P.J. Harvey com o iminente lançamento de seu disco no começo de 2016, a gente abre uma exceção e interrompe as férias.

Dessa forma, só posso dizer que foi um ano ótimo para discussões e, apesar das figuras ridículas que teimam em aparecer por aqui para vomitar sua intolerância e sua ignorância intelectual, a esmagadora maioria dos leitores sempre me dá o prazer com seus comentários, dicas, críticas e sugestões.

Espero que todos tenham uma ótima passagem deste ano turbulento em nosso país para uma nova era de conquistas.

De resto, fique com o teaser disponibilizado pela linda, maravilhosa e estupenda artista que é a nossa Polly Jean Harvey.

Saiu na NME: Henry Rollins fala de tudo um pouco

 

O grande Henry Rollins (líder das bandas State of Alert, Black Flag e Rollins Band) não está, de fato, retornando. Há muito tempo que o rapaz é figurinha carimbada na cena underground mundial.

O cantor, compositor, ator, DJ e ativista tem sido visto fazendo parte da cultura americana desde os anos 80 quando atuou como vocalista da primeira banda punk dele, ainda em Washington D.C., sua terra natal.

Já fez stand-up comedy, realizou atividades em prol da legalização do casamento gay, criou sua própria gravadora musical para lançar seus discos, teve papeis importantes em seriados como Sons of Anarchy, participou de bons programas da MTV e periodicamente aparecia em episódios do Jackass, além de já ter apresentado o Harmony in my Head, programa da Rádio Indie 103.

Pois, eis que a revista especializada em música NME realizou uma entrevista exclusiva com Rollins e nessa conversa (apresentada hoje no blog da publicação) guiada pelo jornalista Gary Ryan tem de tudo.

A primeira grande “desculpa” para a reportagem acontecer é a nova excursão que Henry fará ao redor da Grã-Bretanha com sua apresentação de “Spoken-Word” (atividade na qual há conversas dele com a plateia e se fala acerca de temas variados): “Eu estarei falando muito sobre a própria viagem, filmes e os trabalhos de TV que venho fazendo” – disse o multifacetado artista à revista.

A conversa se desvia para falar de “Gutterdämmerung”, filme no qual Henry Rollins participa ao lado de outros ícones do Rock como Iggy Pop, Grace Jones e Slash, mas a questão sobre terrorismo entra na pauta, pois Josh Homme e Jesse Hughes, líderes do Eagles of Death Metal, também estão no longa, o que leva ao cantor a falar dos atentados em Paris no mês passado: “Eu estava com esses caras (os integrantes da banda que excursiona sem a presença de Homme) na noite antes dos ataques de Paris em Londres.” 

Rollins diz na entrevista que naquele dia se despediu de Hughes e disse que da próxima vez queria estar também com o vocalista do Queens of the Stone Age. Quando pegou o avião e chegou na América alguém lhe passou o Smartphone e pediu que ele visse as notícias sobre o Bataclan.

Teaser do Filme “Gutterdämmerung”

O ícone punk fala sobre a cena indie atual, dá detalhes a respeito de suas visitas a lugares sob guerra civil, Síria inclusa, explica suas posições relacionadas às discussões climáticas, mas perde a linha mesmo é com Donald Trump, o empresário falastrão pré-candidato à presidência dos E.U.A.: “Ele é apenas um cara entediado rico que gosta de dizer coisas que deixa gente tonta excitada.”

Há muito mais coisa sendo abordada na reportagem da NME e é sempre importante ouvir (ou ler) a opinião de gente que não tem papas na língua, mas que também não fala qualquer absurdo aos quatro ventos. O cara sabe argumentar e tem propriedade e conhecimento de tais temas.

Para conseguir ler a integra da entrevista de Rollins acesse o link: http://www.nme.com/blogs/nme-blogs/henry-rollins-speaks-out-on-his-tour-terrorism-and-trump

 

“Right On” é trabalho de qualidade da baixista do Warpaint

jennylee!

É assim mesmo que se escreve (com letra minúscula no início e tudo junto). A alcunha inventada por Jenny Lee Lindbergh segue a mesma regra gramatical heterodoxa do nome de suas músicas, procedimento pouco comum no mundo musical.

A bela, intensa e maravilhosa instrumentista da banda californiana Warpaint (das igualmente belas, intensas e maravilhosas Theresa, Emily e Stella) decidiu aproveitar o tempo livre de 2015 para apostar numa carreira solo.

Enquanto não sai nada novo do Warpaint (durante o ano surgiram boatos de entrada em estúdio, mas tal atividade não vingou) e elas insistem em não presentear o Brasil com apresentações por aqui a menina dos cabelos cor-de-rosa resolver fazer tudo sozinha.

Na verdade, muito do produto incluído em “Right On!”, título da bolacha, foi trabalhado na própria casa da musicista e algumas experimentações podem ser percebidas durante os pouco mais de 38 minutos de duração do álbum que saiu pela sempre competente Rough Trade Records. O estúdio utilizado para a produção final em si foi o  Happy Ending Studios em Silver Lake, nos arredores de Los Angeles.

Além disso, algumas faixas tiveram participação de Dan Elkan, guitarrista e compositor do Them Hills que já deu suporte para Kin Deal e Borken Bells anteriormente e sua amiga de banda, a baterista Stella Mosgawa, auxiliou na maioria das faixas.

Jenny Lee produziu tudo com ajuda de Norm Blake e o ambiente em torno do álbum ficou bem denso e com uma gravação bem limpa.

Porém, é importante frisar que a sonoridade deste trabalho se aproxima mais de faixas e letras góticas do que seriam com a banda da moça. “boom boom” e “never” parecem ter saído de um túnel do tempo diretamente de um ensaio do Joy Division enquanto “Bully” tem mais a ver com Siouxsie and the Banshees.

Há outras canções que mantém esse ambiente pós-punk, mas que se permitem a batidas mais da New Wave, como são os casos de “blind” e “riot”, porém existem ecos do grupo de Jenny em “long lonely winter” e “he fresh”, por exemplo.

A trinca final se inicia com “offerings” que um tom sonoro mais up, enquanto “white devil” (com participação de Dan Elkan) oferecem experimentações vocálicas e instrumentais e “real life” é quase acústica, numa bela sessão de violão.

Dessa forma, não dá para deixar de analisar que os temas sombrios da obra também se encaixam numa espécie de montanha-russa do som soturno do baixo da moça e das guitarras pouco convencionais à música mais solar de hoje em dia.

Essa capacidade de Jenny em encaixar experimentações ao mesmo tempo que faz música de fácil degustação também é de provocar aplausos, o que deixa o blog com mais necessidade de ouvir coias novas do Warpaint, mas com o gostinho de ter recebido um presente para não passar o Natal tão saudoso.

O álbum é veloz no sentido de fazer com o que o tempo passe logo, tendo a capacidade de fazer você escutar mais de uma vez logo de início.

Essa empreitada foi muito bem recebida pela maioria dos sites, revistas e jornais que se metem a falar de música: The Guardian e NME deram três estrelas de um total de cinco e o Pitchfork deixou o álbum com 7,3 de um total de 10.

Sendo assim, fica a clara evidência de que se trata de ótima sacada da menina e que, tanto as outras companheiras de banda poderiam se lançar a tal experimento de carreira solo paralela, como também deveriam ter a boa alma de lançar algo novo juntas em breve.


Right On!

1 – “blind” – 4:11

2 – “boom boom” – 3:52

3 – “never” – 2:48

4 – “long lonely winter” – 4:17

5 – “bully” – 3:53

6 – “riot” – 3:05

7 – “he fresh” – 3:57

8 – “offerings” – 3:56

9 – “white devil” – 3:25

10 – “real life” – 4:01


Never

 


 

He Fresh

 


Long Lonely Winter

 

 

Saiu no Estadão: dez livros para você ler em 2016 que foram premiados em 2015

O jornal “O Estado de São Paulo” lançou hoje em sua página na Internet um ranking com 10 opções literárias que foram destaque durante 2015 por causa dos prêmios recebidos.

A maioria dos livros é de autores brasileiros, uma grande quantidade saiu este por aqui, mas nem todos são deste ano. Os escolhidos entre os estrangeiros foram laureados pelas principais comissões existentes no mundo das letras.

A lista inclui vencedores do Pulitzer, do Jabuti, do Man Booker Prize e de outras tradicionais premiações pelo Brasil e pelo mundo.

Abaixo, seguem as informações sobre cada uma das obras, o que ganharam como comenda e um breve relato de suas sinopses. Nem todos foram lidos pelo Blog, mas fica a dica pela importância que conseguiram alçar em tão pouco tempo.


 

Quarenta Dias

 

O livro foi “só” agraciado com o Prêmio Jabuti de romance do ano ao mesmo tempo em que foi escolhido como o Livro do Ano de Ficção da premiação do mercado editorial nacional. Este “Quarenta Dias” (Editora Alfaguara) é uma obra de Maria Valéria Rezende que segue a história de uma mulher que surta num momento de transição em sua vida e passa 40 dias vagando, vivendo e conhecendo outras histórias pelas ruas de uma grande cidade brasileira.


Tempo de Espalhar Pedras

Num ano em que a editora Cosac Naify fecha as portas ainda teve a possibilidade de trazer ao mercado editorial este “Tempo de Espalhar Pedras”, romance de Estevão Azevedo que, inclusive, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, além de ser finalista em outras disputas. Ele conta uma história do garimpo durante o tempo em que os diamantes começam a sumir do mapa e traça um paralelo das dificuldades, da violência e da corrupção neste locais que forçam as pessoas envolvidas a perder sua humanidade.


Mil Rosas Roubadas

Esta mistura de relato biográfico com ficção e pitadas extremas de ensaio do autor Silviano Santiago lançado pela Companhia das Letras venceu o Prêmio Oceanos (que antes era chamado de Portugal Telecom). A história nada mais é do que uma série de relatos da amizade entre ele e o produtor musical Ezequiel Neves. A obra acompanha diversos momentos na passagem histórica dos dois até o fim quando Neves já se encontra no hospital à beira da morte. Muito tocante a forma como é realizado o livro.


 Sem Vista Para o Mar

A jovem escritora Carol Rodrigues é estreante na literatura e a sua obra “Sem Vista Para o Mar” (Editora Edith) foi concebido durante uma oficina literária na qual foi escolhida como melhor livro de ficção. Desta forma, a série de contos da novata escritora abocanhou mais dois prêmios: aquele dado pela Biblioteca Nacional e o Jabuti de melhor revelação.


Antes que Seque

O livro Vencedor do Prêmio SESC de Literatura deste ano é também obra de uma estreante. “Antes que Seque” lançado pela Editora Record é um retrato de vários casos no qual a escritora Marta Barcellos demonstra a dificuldade de mulheres em encarar a impossibilidade de gerar filhos e a complexa tarefa de enfrentar esse trauma para elas.


A Casa da Vovó

Um livro de investigação biográfica no qual o escritor Marcelo Godoy relata histórias por trás do DOI-Codi de 1969 a 1991. Essa análise do centro de tortura criado pela Ditadura Militar é fruto de 10 anos de pesquisa do repórter do jornal “O Estado de São Paulo”. Além de ser agraciado como melhor livro de biografia pela Biblioteca Nacional, também foi ganhador do Jabuti de melhor livro reportagem, além de ter sido eleito o Livro do Ano de Não Ficção da mesma premiação.


Kaput

A categoria de melhor adaptação foi incluída agora no prêmio Jabuti e logo no primeiro ano venceu uma obra diferenciada. O quadrinista Eloar Guazzelli ganhou com a obra “Kaputt” (WMF Martins Fontes). O livro é um misto de reportagem investigativa com ficção no qual colhe informações do livro de Curzio Malaparte com relatos do lado inimigo (O jornalista cobriu a segunda guerra para um jornal italiano) em que se demonstra toda a desumanidade contida em tempos de conflitos armados. Dessa forma, Guazzelli utiliza estes elementos para criar sua história em quadrinhos.


Toda Luz Que Não Podemos Ver

Esta narrativa sobre a Segunda Guerra Mundial foi a grande vencedora do Pulitzer de Ficção deste ano. “Toda Luz Que Não Podemos Ver” saiu aqui pela  Editora Intrínseca e este livro de Anthony Doerr consegue ir além da repetição com o assunto, pois se utiliza de um bom espaço de tempo entre 1934 a 2014 para acompanhar a vida de duas pessoas desde a sua juventude. A construção em torno da personalidade da francesa Marie-Laure, uma garota cega, que se vê obrigada a fugir com o pai, e de Werner, um órfão alemão que desenvolve meios para lidar com rádios transmissores é bem feita pelo escritor que escolhe bem como fazer as passagens de uma época para a outra.


A Brief History of Seven Killings

 

Livro ainda não traduzido para o português, este “A Brief History of Seven Killings” é o ganhador do Man Booker Prize deste ano. A história de Marlon James aproveita elementos de uma história real (a tentativa de assassinar Bob Marley durante um show) para nos dar nova perspectiva sobre o caso.


Boussole

Outra obra que ainda não saiu por aqui. O escritor Mathais Enard venceu o prêmio Gouncourt, honraria das mais importantes da França por causa do lançamento de “Boussole”, romance reflexivo sobre as relações existentes entre a cultura oriental e ocidental. A livro se aproveita da mistura de ensaio e linguagem poética para aprofundar um tema (que normalmente cai em repetições e clichês) e consegue ser bem espontâneo, algo que não o torna cansativo em nenhum momento.

The Ghost Ease: é melhor você conhecer logo essa banda

As meninas são de Portland, Oregon.

Jem Marie toca fervorosamente sua guitarra e provoca sons pesados enquanto faz as vezes de vocalista.

Laurence Vidal violenta seu baixo com maestria e destreza.

Nsayi Matingou é estilo puro utilizando densamente sua baquetas ao serem desferidas contra a bateria.

O nome da banda é The Ghost Ease e você não vai encontrar citações delas no Wikipédia. É sério, nem tentem já que eu vasculhei toda a internet e nada encontrei.

As parcas informações sobre as três garotas são possíveis de ver apenas em bons sites de música indie americana como o After Allen, mas há alguns vídeos de músicas delas no You Tube. Nem no Spotify se encontra uma única faixa delas.

O destaque é para o jeito de tocarem seus instrumentos que caracteriza um prazer e um comprometimento tocantes. O som é uma mistura de experimentalismo com os sons mais sombrios do Nirvana. Em alguns momentos a sonoridade lembra alguns grupos representantes do Grrrl Power do início dos anos 90 (Babies in Toyland, L7 e Hole inclusos), mas a melodia é mais densa e pesada no sentido de se arrastar mais para lançar um ambiente mais soturno ao ouvinte. Você pode até ter alguma vaga lembrança do Warpaint em sua instrumentação.

Dessa forma, os saltos entre o ritmo mais cadenciado e os momentos de força e volume de suas músicas aprofundam o ouvinte a se levar pela viagem sonora. Acontece isso com as ótimas  “XV”, “Pareidolia”, “Gemini Rise” e “Struck”, apresentadas no vídeo abaixo captado durante a visita delas a um programa da rádio preferida da casa, KEXP de Seattle.

 

Mas é claro que o som persuasivo do The Ghost Ease não se limita a esses quatro exemplos. Em 2012, começaram a gravar algumas músicas e só conseguiram lançar seu primeiro EP, intitulado “The Ghost Ease” no ano seguinte. Ali já havia uma de suas melhores músicas, a discípula de Kurt citada anteriormente, “XV”.

Mas foi em 2015 que a coisa engrenou de verdade. O EP “Quit Yer Job” saiu em abril com quatro faixas fazendo com que tivéssemos um aperitivo do que viria em setembro com o aguardado primeiro álbum completo.

“Raw” tem 10 canções e conta com canções mais acessíveis como “PJM”, petardos de força instrumental e profundidade rítmica como “Pareidolia”, enquanto que outras músicas produzem uma personalidade própria para a banda como “Gemini Rise”, “4BV”, “For Naught” e “Bye, Love”, todas carregadas da intensidade vocal de Jem.

Legal também saber que as meninas não só gostam de experimentar coisas novas em suas músicas, mas possuem senso de humor equivalente. Isso é demonstrado em suas apresentações ao vivo, nos vídeos de suas canções e até mesmo no nome da banda.

A vocalista disse em entrevista que inicialmente seria Ghosties, mas achou que as pessoas só pensariam na série de games Pac-Man. Daí pensou, pensou e o nome atual lhe veio à cabeça. Dias depois descobriu que a primeira alcunha nem poderia ter sido usada já que existia uma banda assim nominada.

De tudo isso, fica uma constatação: é muito bom descobrir pérolas assim pela internet, mas também bate uma tristeza saber que algo tão promissor e de raro talento fica disponível apenas a um número restrito de pessoas.

 


 

Gemini Rise

 

 


Qwi Mai Yab

Os melhores álbuns nacionais de 2015

 

Não, não foi um grande ano para a música brasileira e muita coisa repetitiva ou fórmulas que só nos faz parecer cair num limbo de piora constante são os grandes responsáveis por isso.

Porém, ainda há possibilidade de pescar gente boa aqui e ali, sem, infelizmente, constatar uma cena boa acontecendo em algum espaço do território.

Se conseguimos captar gente boa acontecendo no Amazonas, por exemplo, também é óbvio que o sertanejo universitário e o pagode mela-cueca prosseguem capitaneando a programação de rádios e tvs e isso castra a formação de aparições em massa de coisa nova acontecendo.

Portanto, se não houver uma união maior de artistas ligados a essa ideia de diversificar a coisa o processo de monopólio musical deste país só tenderá a crescer.

Daí, que aqui abaixo, eu listo apenas dez discos considerados importantes para a cena nacional neste ano de 2015, diferentemente do que aconteceu ontem com o top 20 internacional.

Esperemos que ano que vem a coisa flua de maneira diferente. Um abraço!


10 – Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo

 

Não é o melhor trabalho de Elza e nem seu maior momento como cantora (longe disso), mas ela consegue se sustentar em temas bem elaborados e consegue utilizar sua garganta sem parecer apenas uma caricatura de si mesma. É um trabalho honesto que de tão despretensioso acaba surtindo efeito de soar belo.

 

 


 

9 – Cícero – A Praia

O artista evolui com sua música que fala da vida cotidiana se aprofundando no romantismo em determinados momentos. Às vezes, soa um pouco brega, mas dá para aguentar isso em nome da qualidade do todo já que em nenhum momento este “A Praia” se torna previsível.

 


 

8 – Dingo Bells – Maravilhas da Vida Moderna

Os versos espertos e bem alinhados com a parte instrumental são o principal adjetivo que se pode dar a esta banda gaúcha que aproveita este “Maravilhas da Vida Moderna” para lançar mão de um sonoridade mais alinhada ao indie mais tranquilo atual sem se empolgar com barulhos mais intensos. Trilha sonora para acalmar a alma.

 


 

7 – Luneta Mágica – No Meu Peito

 

Se há momentos em que a banda Luneta Mágica parece algo experimental demais existem momentos em que o apelo eletrônico se diverte junto com o as presenças do folk e da música alternativa americana. Mas a estética do grupo amazonense neste ”No Meu Peito” se baseia em melodias acessíveis que são auxiliadas por vocais sem maneirismos complexos. A psicodelia exposta em alguns de seus sons não é tão bem estruturada como, por exemplo, o trabalho do igualmente brasileiro Boogarins, mas dá um caldo bom.

 

 


 

6 – Mahmed – Sobre a vida em Comunidade

 

A banda é do Rio Grande do Norte e sua marca neste primeiro álbum parece ser a forma como modifica suas linhas instrumentais a cada momento (ou até mesmo na mesma canção). Dessa forma, a instabilidade da estrutura musical acaba fazendo sentido para os ouvidos, mesmo que isso não seja tão automático assim. Como uma viagem cheia de obstáculos a música do Mahmed que passeia entre o Dream Pop e o Jazz, por exemplo, soa bem diferente da mesmice nacional deste momento.


5 – Tulipa Ruiz – Dancê

“Dancê” sustenta o caráter sonoro do qual Tulipa Ruiz tenta fugir desde o seu último trabalho “Tudo Tanto” (2012). Agora, sua música parece mais urbana e sua voz comprova essa realidade atual, pois mesmo que se atente ao som mais pop deste disco também atua de forma mais forte, pulsante. Os temas também são mais próximos da realidade da cidade grande e, apesar do título, não é propriamente um trabalho para ser exposto na pista de dança. De qualquer forma, bem acima da mediocridade nacional dos lançamentos deste ano.

 


 

4 – Cidadão Instigado – Fortaleza

A influência de uma sonoridade setentista se faz presente na banda cearense, mas conseguem prosseguir na estrada com uma mistura com a MPB que promove mais harmonia ao seu som e uma pitada de rock progressivo pode ser visto neste novo disco do Cidadão Instigado. Vale pela coragem deles em ir sempre em frente com sua música.


3 – Emicida – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…

 

As músicas são mais viscerais e a melodia soa melhor aos ouvidos. Sonoramente, Emicida cresceu bastante, mas isso também tem de ser creditado à ótima banda que o acompanha. Porém, é a parte da letra que demonstra maior maturidade do artista que consegue agradar tanto ao público jovem da periferia quanto a galera indie.

 


 

2 – Aldo, The Band – Giant Flea

Os sobrinhos do Aldo cresceram musicalmente e não pensaram duas vezes antes de chamar mais dois músicos para a banda a fim de proporcionar um som mais robusto para este Giant Flea. No álbum, segundo da carreira deles, há um eletrônico mais rápido e próprio para a pista, além de demonstrar que o processo de crescimento também alimenta melhores apresentações ao vivo. Interessante guinada dos meninos que vale a pena ser conferida.

 


 

1 – Boogarins – Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos

Banda espetacular que se utiliza de elementos da psicodelia sessentista de Austin para criar um ambiente único na música atual brasileira. Neste segundo álbum, além de prosseguir com a receita que fez deles uma das melhores surpresas da década, também inclui influências da bossa-nova e da MPB dos anos 70 para se aprofundar em temas transcendentais e complexos como o sentido da vida sem se tornar piegas.


Chegou a hora: o blog escolhe sua lista de melhores de 2015

Apesar da reclamação de muita gente do meio musical, críticos inclusive, a opinião do blog Outros Sons é de que foi um ano bem bom.

Tirante à decepção com o cenário nacional na quantidade de lançamentos bacanas (logo mais solto uma lista com os cinco melhores daqui), o que ocorre na gringa é algo interessante: há uma mescla de ritmos que povoam as paradas e a coisa não se restringe ao R&B ou o Hip Hop. Ok, são normalmente os mais tocados, mas ver que nas principais listas europeias e americanas Kendrick Lamar disputa lugar com Courtney Barnett é bastante alentador.

Por conta desse sentimento de que o ano termina com saldo positivo, o blog resolveu encher mais seu ranking e, ao contrário dos anos de 2013 e 2014, agora teremos 20 (e não 10) na parada.

Ficam ainda as menções honrosas para a produção dos discos “Depression Cherry” do Beach House e “How Big, How Blue, How Beautiful” de Florence + the Machine, o lançamento de “Sol Invictus” do Faith No More revelando uma banda com novo fôlego (mostrado inclusive aqui no Brasil) e o divertido disco “Zipper Down” do Eagles of Death Metal que, infelizmente ficou ofuscado pelas lamentáveis cenas da boate Bataclan.

Portanto, abaixo você pode conferir a listinha feita com carinho, afinco e dúvidas que só foram dirimidas no último segundo da partida. Como sempre, e nunca é demais repetir, a ordem é decrescente e ficaria muito feliz se os parcos internautas que nos seguem pudessem dar usa opinião, discordar ou sugerir as suas próprias preferências nos comentários abaixo. Interação sempre é bom!

Espero que gostem. Abraço!



20 – Belle and Sebastian – Girls in Peacetime Want to Dance

Sempre é bom ver bandas veteranas saindo da zona de conforto. Melhor ainda é saber que as experimentações deram resultado e que a desenvoltura das novas músicas não deve muito às antigas. O caso do Belle and Sebastian é bem esse. Com uma carreira sólida no mundinho indie podia muito bem ficar quieto em seu lugarzinho, mas quis inovar e a pegada dance deste álbum se mostrou acertada mesmo ao vivo, algo que nós pudemos presenciar em outubro no show que realizaram em São Paulo.


19 – Alabama Shakes – Sound and Color

Juro que quando ouvi o primeiro disco fiquei surpreso com a capacidade vocal da moça, mas foi só isso. Quando saiu o novo álbum não havia muita convicção em escutá-lo, mas os amigos empolgados quase que me forçaram a realizar tal tarefa. Ainda bem! O álbum é intenso e a qualidade vocal (que soa quase como um novo instrumento da banda) de Brittany Howard se junta muito bem ao groove retirado pelos instrumentos e faz do som algo delicioso de se apreciar.


18 – Kadavar – Berlin

Além de emprestar peso à lista, o Kadavar, banda alemã formada no início da década, também faz jus ao ranking por terminar uma trinca de ótimos álbuns que faz deles uma das principais referências do rock pesado nos últimos anos. As razões são muitas: influência de Black Sabbath e rock psicodélico dos anos 70; letras bem intrincadas com a sonoridade marcante e riffs de guitarra impressionantes. Neste “Berlin” eles ainda conseguiram incluir pitadas coloridas em seu som e a paulada de seus instrumentos também produzem coisas mais elaboradas. A banda também tem muita capacidade no palco, algo que conseguiu mostrar aqui em Sampa mesmo tendo feito isso numa espelunca com som péssimo. Palmas para eles!


17 – Foals – What Went Down

A banda de rock alternativo oriunda da Inglaterra conseguiu chegar ao quarto disco se renovando o que não a faz ficar repetitiva. Este álbum dá novo respiro para o grupo que tem na qualidade vocal de seu líder Yannis Philippakis seu maior trunfo, mas que não se perde na cozinha, pois trabalha com bons ritmos que flutuam entre o eletro-punk, prog e indie rock. As músicas estão mais robustas neste trabalho e podem ser mais bem aproveitadas com maiores plateias. O Foals ficou grande, mas não perdeu a força e frescor que a música alternativa busca sempre.


16 – Best Coast – California Nights

 

A banda que fora formada ainda em 2009 conseguiu fazer bons discos até hoje, mas nenhum tem a mistura de leveza, groove, bons vocais e espírito californiano como este de 2015. A marca do duo constituído por Bethany Cosentino e Bobb Bruno ainda prossegue lançando mão do bom humor das letras, todas advindas de coisas pueris do dia-a-dia para a batida meio cinquentista misturada com algo meio Pixies, meio Stone Roses, talvez. Algumas músicas parecem inclusive ser continuações de outras anteriores, mas quando você termina de escutar a bolacha quer logo em seguida voltar a fazê-lo. O que eles conseguem com este “California Nights” é para ficarmos achando que rock é fácil de se fazer (e olha que não é).


15 – The Libertines – Anthems For Doomed Youth

A volta do ano! Só isso já era satisfatório para os meninos londrinos estarem numa lista novamente. Depois de um hiato nos estúdios de 11 anos e uma parada nos palcos de aproximadamente quatro, o Libertines conseguiu reunir o junkie Pete Doherty com o meticuloso Carl Barat para um retorno junto com os membros antigos. Isso parecia apenas um caça-níquel, mas se tornou num dos melhores discos do ano. A pegada forte de influências de garage rock agora se mostra mais consistente com o ska que remete ao melhor do The Clash. As letras são pulsantes e se encaixam bem na sonoridade nova. Grande e boa surpresa de 2015.


14 –  Ibeyi – Ibeyi

 

As gêmeas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz cantam em inglês e iorubá, um dialeto africano que chegou a Cuba com a importação de escravos e que lá passou a ser chamado de lucumi. Além disso, são filhas de Anga Díaz, famoso percussionista que fora membro do Buena Vista Social Club. Só isso! Dessa forma, com o EP Oya (2014) elas tinham mostrado a que vieram, mas é com este maravilhoso álbum homônimo lançado no começo deste ano que elas puderam mostrar mais de seu absurdo aprendizado musical e vocal, além de nos presentear com sua doçura em suas apresentações ao vivo. Tudo o que acontece no palco ou no estúdio é de autoria das meninas, o que torna a experiência de escutá-las algo mais rico ainda.

  


13 – Slaves – Are You Satisfied?

 

Outro duo, este inglês. O disco de estreia dos garotos malucos Laurie Vincent (guitarra, baixo e vocais) e Isaac Holman (bateria, percussão e vocais) saiu em junho deste ano e logo depois já tinham a difícil tarefa de tocar no Glastonbury numa apresentação que deixou todos embasbacados, tamanho é o barulho que estes dois conseguem fazer. As músicas são pesadas, mas também têm um ritmo que faz você acompanhar facilmente. Dessa forma, o punk que tocam também pode se transformar em lo-fi de vez em quando, ou tudo na mesma hora, depende. É definitivamente o Parquet Courts do ano tanto na alegria de suas canções quanto na raiva de suas letras. Legal demais!


12 – New Order – Music Complete

Ninguém dava mais nada pelo New Order. Um showzinho mequetrefe por aqui, outro disco mais ou menos por ali, mas eis que Bernard Sumner parece ter ficado irritado com isso e chamou uma série de convidados para produzir esse petardo musical de agora. A lista de personalidades que ajudaram a fazer Music Complete é boa e variada: Elly Jackson, da banda La Roux, Iggy Pop e Brandon Flowers, do The Killers. As músicas remetem ao bom período do grupo da metade dos anos 80 quando viveram sua fase mais áurea e alguns singles como “Restless”, “Plastic”, “Tutti-Frutti”, “People on the High Line” e “The Game” são consistentes e comprovam tal sentimento. E agora, os fãs podem se questionar: quem é que precisa de Peter Hook?


11 – Wolf Alice – My Love is Cool

 

O mês de junho foi muito bom mesmo. A banda da linda Ellie Rowsell já havia lançado ótimos EPs nos anos anteriores e figurava em programações das rádios indie inglesa quando saiu “My Love is Cool”. Isso ajudou no reconhecimento de um público maior, mas a postura de gente grande do grupo também ajudou a florescer apresentações pulsantes durante 2015. A primeira empreitada do Wolf Alice tem canções mais rápidas, outras melodiosas e algumas mais densas, mas nunca se tornam entediantes. O frescor das letras e da composição instrumental é outro fator determinante para serem representantes de uma cena mais cool na Inglaterra roqueira. Influências de Pixies e do Shoe Gaze britânico do início dos 90 fazem da banda uma boa alternativa nesse ano de grandes debuts.

 


 

10 – Sleater-Kinney – No Cities to Love

 

A veterana banda de indie rock representante ainda da época do Riot Grrrl de L7 e Babies in Toyland sobreviveu aos anos 2000 e chegou nessa década com muita honestidade. O seu som ainda é muito potente e a presença de palco das meninas ainda é bastante marcante. Mas o disco deste ano traz alguns ritmos mais densos e ambientes mais puxados ao hard rock em alguns períodos misturados com a guitarra mais rasgada em outros. O hit “No Cities to Love” gruda na orelha facilmente, mas outras canções do álbum se tornam tão agradáveis quanto outros momentos da carreira das americanas.

 


 

9 – Wilco – Star Wars

 

Pois é, a turma de Jeff Tweddy não se cansa de nos trazer boas notícias. Não basta ter uma carreira pujante, a criação do próprio selo e do próprio festival de música independente, a iniciativa de realizar seus shows sozinhos e ainda a capacidade de angariar alguns Grammys para sua bagagem e eles ainda nos mandam algumas flechas certeiras no coração. Neste ano, o lance foi o lançamento-surpresa do disco Star Wars (e de forma gratuita). Além de não deixar a peteca cair musicalmente com o seu Country-folk-rock fluindo muito bem não deixam de inovar sonoramente, pois a ambientação de suas canções continua sempre evoluindo. O álbum é um passeio por onze torpedos de pura emoção e talento com todos os músicos tirando o melhor de seus instrumentos, enquanto tais sons nos fazem flutuar sem perceber que o momento está passando. Lindo demais!

 


8 – Lana Del Rey – Honeymoon

 

O último disco de Lana já era muito bom e figurou em muitas listas do ano passado, mas parece que a ambição da moça é muito maior do que isso e neste ano de 2015 resolveu parar novamente em estúdio para gravar mais algumas canções que podiam melhorar ainda mais sua reputação musical. A ideia faz sentido demais quando ouvimos o álbum pela primeira vez. Apesar de não ser exatamente um trabalho de fácil degustação ele te captura já no primeiro instante e te hipnotiza com a voz suave, mas dilacerante de Del Rey. Uma carreira que lança uma guinada mais ao sucesso crítico, porém sem perder a horda de fãs que a venera e promete crescer mais depois dessa empreitada.

 


7 – Tame Impala – Currents

 

Se os representantes do rock psicodélico australiano tiveram uma mudança em sua concepção musical com maior quantidade de falsetes e presença de samples e música eletrônica mais arcaica em suas canções isso não diminuiu sua capacidade de inovar artisticamente. O Tame Impala de Kevin Parker utilizou alguns elementos que os conterrâneos antigos do Bee Gees já haviam usado e misturou tudo isso em sua panela de psicodelia para formar este disco que possui um Q de prog, mas também se sustenta bastante pelas faixas mais rock’n roll. Uma grata surpresa de quem não quer ficar na mesmice.


6 – Of Monster and Men – Beneath the Skin

O recado dos islandeses ainda em 2014 já era claro: “Iremos fazer um disco com as características de nossa terra”. Isso já explica o clima sombrio com que a banda abre o álbum “Beneath the Skin”, segundo trabalho de estúdio da carreira deles. Depois de um debut de sucesso absoluto e presença garantida nos grandes festivais (Lolla Brasil 2013 incluso), o grupo do país gelado resolveu pesquisar mais ainda sobre a música local e isso permitiu que os ritmos primitivos deste novo trabalho não soem artificiais em nenhum momento. O vocal rasgado de Nanna Bryndís continua a emocionar e seus duetos com Ragnar “Raggi” Þórhallsson também funcionam bem, mas é a densidade das canções e o clima bucólico e de contato com a natureza de seus folks que trazem mais emoção à audição.


5 – Miley Cyrus – Miley Cyrus & Her Dead Petz

 

Que Miley Cyrus é uma ótima cantora ninguém em sã consciência pode negar, que ela é uma estrela mainstream também não é possível deixar de constatar, mas presenciar a coragem que esta menina teve neste ano é de aplaudir de pé. Esqueçam as fotos polêmicas e declarações chapadas da moça, isso pode ser estilo, fase ou tipo, mas não estamos falando de sua carreira musical. Quando o assunto é este o melhor mesmo é mostrar aos seus detratores este disco que ela lançou em parceria com o ídolo (dela e meu) Wayne Coyne. É difícil ver alguém com a fama dela jogar tudo para o alto e dizer que vai fazer o que quer sem querer saber se gravadora, patrocinadores ou fãs atuais vão gostar ou não. Ela simplesmente foi lá e fez! O disco é longo e possui de tudo: hip-hop, country music, folk, pegada mais pop e, acima de tudo, psicodelia. Como se fosse a nova vocalista do Flaming Lips a garota não se faz de rogada e utiliza sua voz da maneira mais prazerosa possível (para ela e para nós). Um discaço que saiu gratuitamente no site de Miley e que impulsionou um tour com a banda do chapa Coyne. Legal pacas a bagaça!


4 –  Chvrches – Every Open Eye

 

Seria difícil superar um disco de estreia tão gostoso de ouvir quanto “The Bones of What You Believe”, debut da banda da candidata a voz da sua geração Lauren Mayberry e dos meninos Iain Cook e Martin Doherty, mas não é que eles conseguiram o tal feito? Fincando de vez o pé nos grandes festivais mundo afora e fazendo parte da programação de toda rádio indie que se preze os escoceses conseguiram nutrir tanto a sede por baladas eletrônicas dos seus fãs quanto a fome por hits das principais emissoras europeias. “Clearest Blue”, “Leave a Trace” e “Keep You on My Side” são exemplos nítidos, mas outras partes do álbum não fazem por menos para nos entregar um Synthpop de respeito que os faz ser representantes de uma cena que se encaixa entre dois mundos (o eletrônico e o rock) e é aceita cada vez por ambos os públicos.


3 – Noel Gallagher’s High Flying Birds – Chasing Yesterday

 

O cérebro do Oasis conseguiu sobreviver sem o corpo do irmão e colega de banda. Noel Gallagher já havia feito trabalho conciso e forte no primeiro álbum de sua nova banda tendo no folk e no rock mais cru sua maior virtude, mas é com “Chasing Yesterday” que ele se solta (talvez a maior liberdade artística da carreira) para nos entregar um disco cheio de momentos épicos. Há hinos rock’nroll como “In The Heat of the Moment”, “Riverman” e “Lock All The Doors”, mas também se torna robusto com a oasística (inventei agora) “You Know We Can’t Go Back” ou a discoteque “Ballad of the Might I” que fecha grandiosamente o álbum. De resto é um disco conciso, rápido e direto e não deixa dúvidas sobre a capacidade de criação do moço. Motivos não faltam, portanto, para continuar acompanhando a carreira-solo do inglês e, apesar da onipresente possibilidade de haver uma reunião de sua antiga banda, ela já não se faz tão necessária assim.


2 – Blur – The Magic Whip

 

Os fatores para dar errado são muitos: problemas com drogas, projetos paralelos que atrapalham a concentração na banda, saída de líderes do grupo e pouca criatividade artística. Esses eram os motivos, mais do que suficientes, para que ninguém acreditasse numa retomada aos áureos tempos de Blur. Os anos 90 e começo dos anos 2000 foram embora e só nos restava curtir aqueles momentos da época distinta. Mas eis que após uma turnê atribulada na Ásia eles pararam em Honk Kong. Lá, os rapazes têm uma epifania e resolver fazer “o disco”. Além disso, Graham Coxon volta e a formação clássica está refeita, com Damon Albarn estando em ótima forma vocal. Desse jeito, a criação de “The Magic Whip” tem criatividade com sons diferentes orientais em “Thought I Was a Spaceman”, Lo Fi em “New World Towers”, surf music com “Mirrorball”, influência beatlemaníaca na linda “Ong Ong”, mistura prog-electronic em “Pyongyang”, ritmos caribenhos e até reggae em “Ghost Ship”, além da velha forma de fazer música do Blur com “I Broadcast”, “Go Out” e capacidade de fazer hinos low-profile em “My Terracotta Heart” e hinos para cantar em estádio com a imponente “There are Too Many of Us”. Merece lugar de destaque não só no ano como na carreira do Blur.


1 – Courtney Barnett – Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit

 

Linda, maravilhosa, performática, simpática, inteligente, criativa, potente e imponente. São todos esses adjetivos que podem funcionar bem para introduzir alguém à música desta australiana que já era bem conhecida no mundinho indie muito antes de lançar seu primeiro álbum, o estupendo “Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit”. Primeiro, ela fazia shows pelas principais cidades de sua terra natal com sua vestimenta saída do guarda-roupa de Kurt Cobain, mas depois povoou rádios americanas como a KEXP (onde fez uma linda apresentação em 2014). Nessa época já tinha lançado dois EPs e se preparava para fazer seu debut em disco cheio, mas ali se percebia sua perspicácia e presença de palco que foram se ajustar ao talento preciso para criar letras do cotidiano enfeitadas belamente pelos seus riffs fortes de guitarra e sua voz doce, porém dura para falar da realidade. A questão é que tais versos saem de sua boca e conseguimos amar cada palavra, pois o Country-Folk-Grunge-Guitar-Garage-Rock que ela faz suaviza a tensão de algumas de suas letras. Dessa forma, “Sometimes I Sit…” funciona como se fosse uma música só, tamanha é a presença marcante da menina que só parece ter tendência a crescer no cenário musical mundial. Lindo de ver e ouvir!

 

Vem Primal Scream novo por aí!

 

O Primal Scream anunciou ontem detalhes sobre seu novo trabalho de estúdio já intitulado “Chaosmosis”.

O álbum – o décimo-primeiro da carreira da banda – está sendo preparado há algum tempo e será lançado via First International, selo de propriedade da banda em associação com a Ignition Records para distribuição mundial.

Não houve comentário específico de nenhum membro do grito primal (tradução do nome do grupo que remete à teoria de Arthur Janov), mas inúmeros detalhes sobre a nova produção no site deles.

A primeira é a tracklist completa de “Chaosmosis” (veja no quadro final do post) seguida também por um esboço da turnê britânica que rola a partir de março passando por Glasgow, Londres e Oxford, por exemplo.

Além disso, a foto da provável capa do disco já pode ser compartilhada via redes sociais.

Dessa forma, é só aguardar pelo dia 18 de março de 2016, data oficial para liberação total da bolacha.


Turnê Britânica:

29/03 – Beach Ballroom

30/03 – Glasgow, ABC

01/04 – London, Palladium

02/04 – Manchester, Albert Hall

Os ingressos estarão à venda a partir de 10/12 no site da banda: http://www.primalscream.net.

Os festivais também farão parte da excursão da gente de Bobby Gillespie durante o verão europeu:

28/05 – Southampton Common, Southampton

29/05 – Common People 2016, South Park, Oxford

24/07 – Secret Garden Party, Mill Hill Fields, Huntingdon

13/08 – Down To The Woods, Sedgefield, near Durham

Enfim, ano de 2016 cheio para os meninos e festa garantida para quem quiser assisti-los já que suas apresentações são imperdíveis desde os primórdios de “Sonic Flower Groove” quando ainda era um duo, percorrendo até o clássico “Screamadelica” e mesmo nos shows recentes de 2013 com o bom álbum “More Light”.

A vibrante música desse grupo escocês, mistura de psicodelia com o rock cru dos anos 70 e o eletrônico dos 90 ainda pode dar o que falar e os bons discos lançados periodicamente não desmentem essa sensação.


“Chaosmosis” – Primal Scream

Trippin’ On Your Love

(Feeling Like A) Demon Again

I Can Change

100% Or Nothing

Private Wars

Where The Light Gets In

When The Blackout Meets The Fallout

Carnival Of Fools

Golden Rope

Autumn In Paradise


Chaosmosis – Teaser

* Com informações colhidas da Revista Uncut *  

Brasil, o país egoísta que escolhemos para viver

 

Vivemos tempos surreais neste país varonil.

A política tem se resumido a uma briga de colegiais que se sentem enciumados à frente das câmeras e tramam um jogo dos tronos por trás das cortinas.

Presenciamos uma presidente despreparada e absurdamente mal assessorada, tendo leões e corvos prontos para apunhala-la e comer sua carne putrefata a qualquer momento;

Temos dois presidentes das principais casas legislativas dessa nação poluída envolvidos diretamente com atos criminosos e pagando de bonzinhos enquanto empunham sua metralhadora apontada a todos os lados;

Possuímos em nossos quadros legislativos deputados e senadores mais preocupados com currais eleitorais e fontes financeiras como a CBF, o Império agrícola, as empreiteiras e as Igrejas evangélicas do que com a crise instalada por aí;

Vemos uma oposição fraca e burra que só consegue pensar como solução mais gasolina para apaziguar a fornalha instituída, tendo um líder-mor sendo ovacionado pela debilidade da massa enquanto brinca de senador sem ao menos fazer do cargo algo de valor;

Visualizamos dois ex-presidentes que acham fazer parte da monarquia (ou têm certeza?) e cagam suas sugestões e conselhos imbecis aos quatro ventos;

Temos uma classe média ressentida e egoísta que só quer se livrar do cheiro fétido da pobreza para assim afastar a visão de qualquer miserável se utilizando de seus lindos aeroportos ou restaurantes;

Assentimos com a cabeça para as decisões canalhas de juízes que, de justiça, só entendem se essa estiver sendo fabricado para os mais ricos e detentores do credo do poder;

Assistimos passivamente a governadores ditatoriais sucatearem nosso serviço público e defender abertamente a demolição da saúde, da Educação e do transporte público enquanto batem em professores e estudantes apenas para seu bel-prazer;

Enfim, nossos olhos veem, mas nossos corpos continuam colados de forma a não se deslocar mais da cadeira de onde não sairemos para nada, a não ser para salvar o próprio rabo.

Este é o país egoísta que construímos, amigos.

Aproveitem!

Dhiancarlo Miranda

Você conhece Daniel Johnston?

 

Nos anos 90 ele foi citado em algumas revistas especializadas em música por aqui, pois se sabia que Kurt Cobain mantinha uma admiração e influência por causa de sua atividade artística.

Mas foi em 2006 que Daniel Johnston (nascido Daniel Dale Johnston, 22 de janeiro de 1961, Califórnia, Estados Unidos) se tornou mais visível aqui pelos nossos lados.

Por meio de um documentário intitulado “The Devil and Daniel Johnston”, dirigido por Jeff Feuerzeig, o músico e compositor foi finalmente conhecido por um público menos reduzido aqui no Brasil. A produção que retrata o dia-a-dia deste homem que sofre de esquizofrenia e transtorno bipolar chegou inclusive a vencer o prêmio da crítica do festival NatFilm. Isso se deveu principalmente por saber retratar de maneira singela e sem rodeios os conflitos do cantor com sua vida cheia de percalços por conta de seus problemas mentais.

Porém, a dificuldade de conviver consigo próprio não apareceu magicamente no filme de 2006, pois desde que fora diagnosticado com tais questões psíquicas Daniel tem lutado para manter uma realidade menos perturbadora.

Seu trabalho como compositor já rendeu tantas preciosidades que foi elogiado por Tom Waits e há gente muito boa da cena alternativa dos EUA como Beck, Wayne Coyne e Jeff Tweedy (Wilco) que o venera por ser o artista excêntrico que expõe em suas composições o conflito interno com seus demônios que vem e vão periodicamente.

Inicialmente, sua carreira teve bom êxito nos becos que parecem respirar música boa na cidade de Austin, Texas (local em que morou entre os anos 80 e 90 e onde experimentou LSD pela primeira vez), justamente por que o líder do Nirvana apareceu com uma camiseta de Johnston por lá e, como qualquer coisa da qual Cobain falava produzia curiosidade, esta também virou mania no circuito indie local.

Mas, conforme foi passando o tempo, a melodia residente entre a Surf Music e o completo Low Fi se juntou também à sua capacidade artística de desenhar. Muitas dessas obras começaram a estampar capas de discos alternativos, banners de apresentações musicais e suas próprias atividades como músico.

Há quem diminua sua capacidade de compositor, pois acha que sua condição clínica limita muito de sua arte e há percepção de que não possui a maestria necessária para empunhar o violão de vez em quando, mas a questão é que o processo pelo qual Johnston deve passar todos os dias para brigar com seu outro lado explica muito da emoção empenhada em suas canções e isso já é suficiente para respeita-lo mais do que muitos outros músicos de sua geração.

A dinâmica de seus shows é intimista e as conversas entre ele e o público não são poucas, pois ele parece se favorecer disso para poder amansar o fogo que teima em consumi-lo por dentro. As canções que falam de amores impossíveis e temas correlatos aos tempos de colégio em consonância com as falas sobre a não aceitação dos mais próximos fazem com que você se aprofunde junto com ele para esse universo de autodestruição (mesmo que não seja proposital).

Um resumo rápido do trabalho de Daniel Johnston foi explicado em duas palavras pelo jornalista Pedro Antunes quando este acompanhou o cantor num show realizado em São Paulo em 2013: “a dor envolvida de beleza”.

Agora, depois de oito anos de preparo (sendo dois apenas de produção), o ator e diretor Gabriel Sunday acaba de lançar “Hi How Are You Daniel Johnston?” com apenas 15 minutos de duração e tendo a seguinte premissa: o Johnston do presente conta suas histórias e promove conselhos para o Johnston de 1983 (vivido pelo próprio diretor).

Nesta empreitada financiada através de crowndfunding toda a filmagem se passa no quarto-sala do cantor, o que acaba tornando para o espectador uma experiência claustrofóbica que auxilia na compreensão do processo criativo de Daniel. Tudo isso envolvido pelas pinturas dele próprio.

Na atividade cinematográfica participaram artistas fãs do músico como a cantora francesa Soko, no papel do grande amor de vida dele e Lana Del Rey e o rapper Mac Miller funcionaram como produtores comerciais, já que bancaram parte da obra dos seus próprios bolsos.

A cantora nova-iorquina também fez uma versão para “Some Things Last a Long Time” que toca nos créditos do filme.

Johnston não é perfeito em sua atividade musical, mas é exatamente o que o torna tão autêntico e humano, fatores que comovem e envolvem quem se dispõe a escuta-lo (ou seria senti-lo?).

Músicas como “Don’t Let the Sun Go Down on Your Grievances” e “Life in Vain” são normalmente cantados em uníssono em suas apresentações, mas outras preciosidades como “Go” (que foi regravada pelo Flaming Lips) e The Friendly Ghost” também fazem sucesso entre seus fãs.

A possibilidade de se visualizar um cara real e coberto de problemas internos conseguindo vencer dia após dia para conseguir, através do órgão de seu sobrinho, produzir álbuns inteiros como “Yip/Jump Music” e “Hi, How Are You” é mais do que uma experiência única, trata-se de uma lição de vida  e ação necessárias para quem gosta minimamente de boa música.


Daniel Johnston “Hi, How Are You” (1983)

 


Trailer do filme “Hi, How Are You Daniel Johnston” de Gabriel Sunday