O quarto álbum do Boogarins, “Sombrou Dúvida”, saiu no início de Maio (10), mas já estava na cabeça dos meninos de Goiânia desde 2017, quando começaram as gravações em Austin, durante sua segunda participação no South By Southwest (SXSW), psicodélico festival que ocorre todos os anos no Texas.
O incrível é que no meio disso tudo houve o lançamento de “Lá Vem a Morte” (2017) que já estava gravado naquele momento e muitas diferenças sonoras podem ser apreendidas de lá pra cá.
Com produção de Benke Ferraz (guitarrista do grupo) e Gordon Zacharias, o disco que saiu agora possui uma diferença básica de ter sido todo trabalhado em bases únicas e jams inteiras para as músicas enquanto que o anterior tinha colagens que foram sendo feitas com partes de processos livres de cada membro do grupo.
O resultado do trabalho anterior é que temos uma psicodelia condizente com uma viagem profunda e lisérgica na qual em alguns momentos letra e som não se conversam nitidamente, mas que seduz o ouvido para que o caminho desse voo seja denso e tenso. Já agora temos um diálogo das rimas, temas e ambientes sonoros que constatam até mesmo uma necessidade de seus integrantes discursarem sobre mais coisas em sua música.
Desse modo, assuntos sombrios são tornados externos através de uma musicalidade mais solar, e a viagem que por vezes soavam meio pesada em determinadas batidas anteriores se tornam em “Sombrou Dúvida” pitadas artísticas mais alegres e empolgantes.
O objetivo alcançado, portanto, com “Sombra ou Dúvida”, “Tardança” e “Invenção”, por exemplo, é de maior diversidade na maneira como são tocadas e a solaridade acaba por ser perceptível.
Também temos encaixes de regionalismos e casamentos com maior batida e a cozinha comandada por Raphael Vaz (baixo e synth) e o baterista Ynaiã Benthroldo por meio de canções como “Dislexia ou Transe”, “Tradição” e “Te Quero Longe”, mas é engraçado notar que são eles mesmos que desmontam e as reconstroem mais peso nas apresentações ao vivo que costumam ter um instrumento a mais, a voz do outro guitarrista do grupo, Dinho Almeida.
Além disso, a tradição goiana do sertanejo também se faz presente por meio da levada guarânia de “Desandar” que faz piada sonora com a repetição musical de duplas daquela região.
Do início com “As Chances” passando por “Te Quero Longe” e chegando ao fim com “Passeio” tudo é muito bem trabalhado em termos técnicos, mas também de maneira energética.
Enfim, “Sombrou Dúvida” é só mais uma etapa no turbilhão de ideias que os rapazes do Boogarins vêm trazendo ao Brasil indie por meio de discos que se mostram como uma mola propulsora que intensifica a dimensão com a qual consegue atingir público e crítica com criatividade, empenho instrumental e energia que fazem a gente querer ouvir mais a cada trabalho lançado.
Que essa caixinha de ideias que a banda se tornou não tenha fundo e que muita coisa ainda saia daí nos próximos anos para transitar por palcos e ouvidos atentos por muito tempo.