Brasil, a terra de Paul

O cantor britânico anunciou no início desta segunda (13), através de seu site oficial, a realização de três shows em terra brasileiras no mês de novembro.

As apresentações de McCartney estão marcadas para os dias 10, 23 e 25 do mês que vem, em Cariacica, Brasília e São Paulo, respectivamente.

Na cidade de São Paulo o ex-beatle fará, provavelmente, a inauguração do Allianz Parque, estádio recém-terminado do Palmeiras; em Brasília, a apresentação será no Estádio Nacional; e, em Vitória, o evento será feito no Estádio Kléber Andrade.

Também já foram adiantados os valores dos ingressos. Em São Paulo e em Brasília, os ingressos custam entre R$ 110 (meia, cadeira superior) e R$ 700 (pista premium). Para a capital paulista, as vendas acontecem a partir desta sexta-feira (17) pelo site http://www.tudus.com.br. Em Brasília, as vendas começam em 22 de outubro. No Espírito Santo, os ingressos custam de R$ 140 a R$800, segundo os produtores da atração musical.

Paul tem se notabilizado por realizar inúmeros shows pelo território brasileiro nos últimos anos. Ele tocou em oito locais diferentes por aqui nos últimos quatro anos, nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste.

No caso deste ano tudo está acontecendo muito rápido, portanto quem quiser assistir a mais uma apresentação do artista, que está fazendo mais shows no país do que muito cantor brasileiro, terá de correr.

Haverá pré-venda para os fãs cadastrados no site oficial do artista. Estes podem comprar ingressos nesta terça (14), a partir das 10h, no Espírito Santo; na quinta (16), a partir das 6h, em São Paulo; e, na próxima terça (21), em Brasília.

McCartney traz ao país a turnê “Out there!”, em que apresenta clássicos dos Beatles e dos Wings, além de sucessos da carreira solo e canções do disco “New” (2013).

A genialidade da banda do Sargento Pimenta

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Depois de um longo e tenebroso inverno, a sessão “Álbuns Clássicos” está de volta e não poderia ter um retorno melhor do que a análise daquele que é considerado por muitos o melhor álbum de todos os tempos.
 
A verdade é que o oitavo álbum de estúdio dos Beatles, lançado exatamente no dia 1 de Junho de 1967, não só foi um sucesso de vendas como superou todas as possibilidades de experimentação sonora na história do rock e se tornou influência definitiva, ao lado de “Pet Sounds” dos Beach Boys, para tudo o que veio depois na música.
 
O disco permaneceu 22 semanas no topo das tabelas de álbuns do Reino Unido e 15 semanas no primeiro lugar dos Estados Unidos.
 
A revista Time chegou a chamar o álbum de “uma partida histórica no progresso da música” e a New Statesman rasgou elogios ao considerar que a banda de Liverpool efetuou uma “elevação do pop ao nível da arte”.
 
“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” ganhou quatro Prêmios Grammy em 1968, incluindo nessa cesta o “Álbum do Ano”, sendo assim o primeiro LP de rock a receber tal honraria.
 
Mas para chegar até estas premiações muito se fez para que isso acontecesse.
 
Para entender essa questão é importante voltar a agosto de 1966, quando os quatro rapazes efetuaram um retiro começando um prazo de férias que durou três meses. Hoje em dia esse período é considerado quase que uma fase de desintoxicação das atribulações que os Beatles tinham com as turnês, entrevistas, aparições e toda a vida maluca que eles possuíam naquela época.
 
No mês de novembro daquele ano, durante um voo de regresso para Londres, Paul McCartney teve a ideia para uma canção envolvendo uma banda militar que provavelmente seria o embrião para o novo álbum deles.
 
Daí para o início das gravações para o clássico trabalho foi um pulo.
 
A produção inicial se dá a partir de 24 de Novembro no mitológico Abbey Road Studio Two, com a intenção original de criar um álbum que fosse tematicamente ligado à infância dos membros da banda.
 
Por aí começam a surgir sutilezas como “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane”, mas não demorou para que a EMI Records, desesperada por qualquer coisa nova escrita pela banda forçasse a barra para que as canções fossem lançadas como um single de dupla face. Desta forma, ambas não aparecem neste oitavo trabalho de estúdio.
 
A sorte é que àquela época todos eles tinham ideias insanas e já em fevereiro de 1967, depois de gravarem a canção “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, McCartney sugeriu que fizessem o álbum inteiro como se representasse um show realizado pela banda fictícia criada por ele.
 
“Sgt. Pepper”, portanto, torna-se uma ótima desculpa para se basear em experiências musicais e a banda passa a trabalhar incessantemente chegar à perfeição musical e a melhorar a qualidade da produção em comparação com os discos anteriores.
 
Brotam da cabeça de John, Paul, George e Ringo pérolas como “With a Little Help from My Friends”, única faixa cantada pelo sempre tímido Ringo, “Lucy in the Sky with Diamonds” e “A Day in the Life” que aparecem como primeira, segunda e terceira canções, respectivamente no álbum, através de experimentações únicas de arranjos otimamente engendrados assim como instrumentações jamais utilizadas na história do rock.
 
A gravação inovadora do álbum usada pelo produtor George Martin, incluía a aplicação liberal da modelagem de som com processamento de sinal e o uso de uma orquestra de 40 pessoas que, por vezes, tinham como colaboração tocar crescimentos de tons aleatórios que deixavam as canções estranhas, se ouvidas separadamente dos vocais.
 
O trabalho musical e a gravação das faixas teria cabo em 21 de Abril de 1967.
 
Dessa forma, o trabalho de pós-produção, que incluía pitacos de todos os integrantes também se mostrou importante para a finalização clássica que podemos ouvir no vinil.
 
A própria capa da bolacha é uma obra de arte contemporânea, já que mostra a banda posando em frente a uma plateia de celebridades e de figuras históricas. Este trabalho foi desenhado pelos artistas britânicos Peter Blake e Jann Haworth, a partir de um esboço de McCartney.
 
Sgt. Pepper é considerado por especialistas em todos os tipos de música como um álbum conceitual, que revolucionou o uso da forma até então vista na musica popular mundial. Da mesma forma, também é um amadurecimento artístico dos próprios integrantes do grupo da fria Liverpool.
 
Já foi descrito como Art Rock, Psicodélico, um desenvolvedor do rock progressivo com pitadas do que viria a ser o rock pesado da década posterior.
 
Além disso, o disco se aproveita de multigêneros universais da música e incorpora diversas influências estilísticas, como a vaudeville, por causa de sua proximidade com a canção popular, a música incidental circense, a música de salão (music hall), avant-garde (ou música de vanguarda francesa), a música clássica ocidental e até mesmo coisas mais multiétnicas como a indiana.
 
Por outro lado, “Sgt. Pepper’s” prova que o rock não necessitava se limitar a acordes simples e instrumentos básicos. A bolacha se desenvolveu num esquema fora dos padrões que ainda são reconhecidos hoje como “guitarra-baixo-bateria”, e por meio de instrumentos “estrangeiros” ao rock como clarinetes, harpas, instrumentos orientais e o uso de sintetizadores pré-históricos para os padrões atuais os fez flertar com a música eletrônica (inexistente à época).
 
Talvez o melhor resumo do trabalho dos Beatles é dado por Paul McCartney que diz que “antes tentávamos compor canções pegajosas. O Pepper’s foi mais como escrever um romance”.
 
Fora toda a genialidade do álbum há de se perceber sua capacidade de conversar com o público de seu próprio contexto histórico já que não foi uma produção reconhecida tardiamente, pois, já após seu lançamento fazia sucesso entre público e crítica.
 
A revista Rolling Stone descreveu certa vez que “’Sgt. Pepper’s’ é o disco de rock mais importante já gravado, uma aventura insuperável em conceito, som, composição, capa e tecnologia de estúdio, feito pelo maior grupo de rock de todos os tempos”, e o selecionou como o número 1 numa lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos.
 
Ainda hoje, a música pop tem algumas dívidas com este trabalho dos Beatles como os encartes que continham as letras da música e a capa dupla do álbum, por exemplo.
 
A própria mitologia e a curiosidade em torno do disco também rendem muitas histórias.
 
Isso vai desde o título da já mencionada “Lucy and the Sky with Diamonds”, por conta de sua provável referência à droga LSD, assim como a quinta faixa do lado A, “Fixing a Hole” que seria uma menção ao uso de heroína que John Lennon fazia naquele período.
 
Também é interessante a inclusão de uma reprise para a música-título do disco no lado B. Ademais, soa diferente a estrutura de “Getting Better” que acelera as bases do rock, e a solenidade com que é conduzida a bela “She’s Leaving Home”, que conta com o uso de cordas clássicas e harpas, num conto sobre a dor de uma jovem que abandona seu lar.
 
A canção seguinte, “Being for the Benefit of Mr. Kite!”, surge como um grande show circense com a inclusão de clavicordes, órgãos, uma bateria hipnótica, a voz anasalada de Lennon e a inspiração do vocalista no cartaz de 1843 que ele viu uma vez. Viagem total!
 
O estilo hindu com que é conduzida “Within You Without You”, única canção com autoria de Harrison, o mais místico e esotérico do grupo, suscita o acompanhamento de violinos e escalas rítmicas orientais durante sua narração religiosa sobre o amor incondicional. É quase uma homenagem ao músico indiano Ravi Shankar, músico que inspirou muito George.
 
“When I’m Sixty-Four”, com letra e condução de McCartney, mostra uma história sobre o amor eterno com o som despojado de clarinetes, numa canção que havia sido escrita por ele ainda em sua adolescência.
 
O pop tem vida através de “Lovely Rita” e seu piano tocado para acompanhar Lennon, McCartney e a história de uma controladora de parquímetros. Duvido ter alguma outra música na história sobre tal tema.
 
Aqui se inclui outra lenda acerca da produção do disco, segundo a qual Paul McCartney teria morrido num acidente de carro por estar olhando para uma inspetora de parquímetros (Metter Maid em inglês).
 
Good Morning Good Morning” é outra música acelerada que traz o anúncio de seu início através do canto de um galo. Logo em seguida temos a voz de Lennon, numa canção que ele mesmo revelou ter se inspirado na marca de cereal Kellogg’s, conhecida por ter um galo como seu símbolo.
 
O final da canção tem uma série de ruídos animalescos que estariam comendo uns aos outros. A música possui um solo feito por McCartney com sua Fender Esquire numa possível transição do que mais tarde seria chamado de heavy metal, devido à sua rapidez e peso.
 
“A Day in the Life” fecha o álbum em grande estilo a partir da ideia de Lennon e McCartney, que se basearam em uma colagem de notícias retirada de um jornal e suas respectivas reflexões na voz inconfundível de John.
 
Tudo isso em meio a uma difusa e quase acústica sonoridade que se esvai para dar lugar a um ascendente ruído sinfônico até chegar às notas mais agudas possíveis para promover uma ruptura e iniciar a parte escrita e cantada por Paul McCartney. O próprio som de relógio que soa neste interim sinaliza sua proposição.
 
A quantidade de instrumentos utilizados nessa sequência é tão grande que a gravação foi refeita e superposta quatro vezes para que houvesse leves diferenças de tempo. Assim sendo, tudo se assemelha a uma orquestra monumental e o resultado final soa como o pouso de um avião, que logo após é interrompido por um despertador que indica o fim de tudo.
 
Para se ter uma ideia, em 2003, a Biblioteca do Congresso Americana colocou “Sgt. Pepper’s” no Registo Nacional de Gravações, honrando o trabalho como “culturalmente, historicamente, ou esteticamente significante”.
 
Até este ano de 2014 já haviam sido vendidas mais de 30 milhões de cópias do disco fazendo dele um dos álbuns mais vendidos da história da música.
 
Na enciclopédia Oxford de Literatura Britânica, há a seguinte descrição para o verbete do disco: “o mais importante e influente álbum de rock and roll alguma vez gravado”.
 
Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band
 
Lucy in the Sky with Diamonds
 
Getting Better
 
Lovely Rita
 
A Day in the Life