Cinquenta Tons de um Mago

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Não sou fã de Paulo Coelho. Nunca fui.

Dito isto, prossigo esse post mencionando que à época em que era letrista ao lado de Raul Seixas o autor brasileiro pôde experimentar vários ritmos de composição artística ajudando-o a forjar uma carreira escritora muito frutífera.

Claro que a Sociedade Alternativa que almejava ao lado do Maluco Beleza era inviável, mas foi por meio dela, e de algumas letras do período, que o Mago conseguiu planejar histórias mais complexas a posteriori.

O escritor teve a audácia de colher características do discurso dos livros de autoajuda (que começavam a fazer muito sucesso no final dos anos 80) e a perspicácia de adotar o tom otimista dos livros espíritas para a partir de um esoterismo reinventado por ele realizar best-sellers mundiais como “Diário de um Mago” (Editora Rocco – 1987) e “O Alquimista” (Editora Pergaminho – 1988).

Mas não é só isso que ele conseguiu: virou guru de artistas famosos com suas frases de efeito acerca da vida e da felicidade. É considerado uma espécie de Deepak Chopra tupiniquim.

Mas mesmo com todo esse sucesso global sempre houve muito preconceito com a leitura de seus livros. Muito se diz sobre eles: que são de baixa qualidade cultural, que a linguagem usada nos livros é pobre e que o autor não é original.

Vou falar por mim: li os dois livros citados acima e mais “Maktub” (coletânea de frases e pensamentos do autor) e digo que gostei dos dois primeiros, mas que a sensação é de que à medida em que se vai finalizando cada uma das obras você vai sentindo um procedimento circular tomando conta do romance.

Capa do livro “Diário de um Mago” de Paulo Coelho
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Parece que você já viu aquilo em algum lugar (ou no mesmo livro ou em algum outro) e de que falta tato para finalizar as histórias. Nesse sentido acabei criando uma antipatia pela bibliografia do escritor e nunca mais li nada dele.

É incrível que essas coisas vão passando de um para outro e vira uma tendência. Daí a ser um preconceito é um pulo.

O cara é um best seller no mundo todo, traduzido para todas as línguas, mas não há sequer um único livro didático de língua portuguesa ou literatura do ensino fundamental ou médio que cita Paulo Coelho ou sua obra.

Por outro lado, séries juvenis americanas ou britânicas como Percy Jackson ou Harry Potter são exemplos vigentes em qualquer um dos mesmos livros escolares.

Mas não é nesse ponto que quero chegar.

Percebo, nesse momento, uma histeria (feminina, principalmente) pelo tal “Cinquenta Tons de Cinza”. Fala-se de um casal em que a mulher, submissa aos ataques violentos do amante, atinge orgasmos a cada surra. Inédito? Não. E é aí que está o problema.

Nos anos 1970, Cassandra Rios já fazia sucesso com muito mais erotismo (dado o contexto histórico) aqui no Brasil. Há muita coisa muito mais original por aí e que não causa tanto furor quanto o livro de E. L. James.

Agora cheguei onde queria.

Um livro banal, idiota até quanto esse “Cinquenta Tons…” é aclamado pelos leitores e não vejo nenhum formador de opinião descendo a lenha nele, mas um autor brasileiro, profícuo desenvolvedor de romances de sucesso, não pode ser citado numa roda de intelectuais que já causa azia.

Não é possível que romances como “Brida”, “O Zahir”, “O Monte Cinco”, “Veronika Decide Morrer”, entre outros, todos com grande vendagem, não possua nenhum adjetivo positivo a ser ressaltado, nem que seja a própria capacidade do autor de se repetir (do qual reclamei no início do post) e que isso pode ser, inclusive, uma forma do leitor visualizar uma identidade única em Paulo Coelho, que por essa e por outras, pode ser chamado com toda a pompa de Mago.

Portanto, há momentos em que o sentido das coisas na literatura nacional tem menos a ver com coerência e mais a ver com tendência, qualquer que seja ela. Um equivoco, de todo jeito.

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Um comentário em “Cinquenta Tons de um Mago

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