50 anos de Doctor Who: Por que isso é uma façanha?

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A data valeu até uma menção na capa do Google. E ontem foi ao ar o episódio de celebração desta data impossível para qualquer show televisivo. Mas como isso é possível?

O ano é 1963 e a BBC precisa de um programa para preencher a sua programação do sábado à noite, entre o Juke Box Jury, programa já voltado para o público adolescente, e o programa de esportes Grandstand. O engraçado é como essas coisas mitológicas da tv podem acontecer.

A ideia era fazer algo voltado para as crianças, mas que também agradasse ao público adulto e a BBC queria provar que não era uma emissora formal além da conta já que outro canal, a ITV tomava conta do país.

Daí fora recrutado o canadense Sydney Newman, criador também da série The Avengers (que nada tem a ver com os heróis da Marvel), na própria ITV. Fã de ficção científica, ele foi convidado a se tornar o Chefe do Departamento de Drama da BBC e trouxe com ele sua estagiária do canal concorrente, Verity Lambert, a primeira mulher a se tornar produtora de um programa de televisão na Inglaterra.

Dessa forma, ficou a cargo deles desenvolver uma série com um personagem chamado Doutor que tinha uma máquina do tempo pequena por fora, mas enorme por dentro. Mas o grosso da ideia era que o tal Doctor Who fosse um personagem para ensinar ciência de forma divertida, mas o objeito não passava por uma duração tão longa.

Portanto, o formato de “An Unearthly Child”, o primeiro episódio da série, foi moldado aos poucos.

Por pouco Doctor Who não foi por água abaixo por causa de um fato inesperado: em 22 de novembro, um dia antes da estreia, o então presidente dos Estados Unidos John Kennedy foi baleado no Texas. Devido ao fato, a BBC decidiu reapresentar o primeiro episódio da série na semana seguinte, em 30 de novembro.

É importante salientar que a série clássica de Doctor Who compreende o período de 1963 até o seu cancelamento, em 1989, além do filme de 1996. O retorno em 2005 já tinha Cristopher Ecclestone no papel principal.

Desde o primeiro doutor, Willian Hartnell, passando por Patrick Troughton, Jon Pertwee, Tom Baker, Peter Davison, Colin Baker, Sylvester McCoy e Paul McGann, até chegar a Christopher Eccleston, o personagem dos tempos atuais, as regenerações de Dr Who trouxeram histórias maravilhosas e curiosas com os atores e a produção do programa, mas nada supera o que aconteceu nos anos 70 e início dos 80 com Baker (a quarta regeneração do Doutor).

Seu papel como o doutor se caracterizava muito pelo cachecol colorido de três metros e meio de comprimento e as famosas Jelly Babies, tornando o mais famoso da série. Sua versão foi criada em plena Guerra Fria fazendo do Doutor o líder de rebeliões de escravos de planetas distantes contra seus opressores. Neste momento, o personagem faz um contraponto com o poder dominante e tinha seu toque excêntrico mas, ao mesmo tempo, era amável e doce com seus companheiros.

Essa miscelânea foi determinante para a popularidade de Baker, que se fez notar até mesmo para o público dos Estados Unidos. Em sua época, a audiência voltou a subir, chegando a picos de 10 milhões de espectadores.

Com ele, viajaram na TARDIS algumas das companheiras mais marcantes da série: Sarah Jane e as Senhoras do Tempo Romana I (Mary Tamm) e Romana II (Lalla Ward), além de Leela (Louise Jameson), uma selvagem de Sevateem.

Mas o mais curioso ocorre a partir do sétimo ano vivendo o personagem em que Baker começou a achar que era o Doutor na vida real. Seus problemas com a bebida pioraram e, na entrada dos anos 1980, a BBC buscou renovação para a série. Para isso, é chamado o produtor John Nathan-Turner.

Turner foi o produtor que permaneceu por mais tempo na série, desde 1980 até o cancelamento, em 1989, e foi responsável por escolher outros atores para o mesmo papel posteriormente. Peter Davison, Colin Baker e Sylvester McCoy foram fruto do ok de Turner.

Mas assim que entrou, Nathan-Turner quis reformular tudo aquilo que, para ele, estava errado na série. Ele temia que o público pensasse que Doctor Who estava se tornando muito caricato e engraçadinho demais. Daí, diminuiu o cachecol de Baker, amenizou as cores, deixando tudo mais opaco, tirou de cena o simpático cãozinho K-9 e destruiu a chave de fenda sônica, além de modificar a abertura da série, tanto na música-tema como na mudança do rosto de Tom Baker, que era o mesmo desde 1974.

Como era de se esperar, Baker que já estava passando da conta com sua excentricidade, não aprovou nenhuma vírgula disso, já que estava acostumado a mudar os roteiros dos episódios na hora das filmagens e atuar como bem entendesse (afinal de contas, ele era o próprio Doutor). Foi então que decidiu abandonar a série, para a tristeza de sua enorme legião de fãs, mas entrou na história como o ator que ficou mais tempo no papel principal da série.

Ontem, portanto, foi o dia do episódio comemorativo dos 50 anos da série. A BBC fez questão de recrutar um elenco de peso para realizar o filme e apesar de todos os comentários anteriores à exibição do programa “The Day of the Doctor”, consegue surpreender até aos fãs mais descrentes.

Isso sim pode ser chamado de homenagem a uma série tão importante para a história da tv mundial. As expectativas eram altas e a ideia era utilizar a regeneração a partir do personagem vivido por Christopher Eccleston, mas com sua recusa em participar houve a necessidade de algumas modificações num processo que já é conhecido nos especiais do programa. Eles sempre trouxeram vários Doutores interagindo entre si.

No entanto, a “substituição” por John Hurt caiu muito bem e, junto com Matt Smith e David Tennant, eles conseguiram dar vida a um especial multidoutores para ninguém botar defeito.

Atualmente, O Doutor é interpretado por Peter Capaldi, que assume o papel depois da aparição final de Matt Smith no Especial de Natal exibido em 25 de dezembro de 2013.

50th Anniversary Dr Who: The Day of the Doctor

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