O que você está fazendo que ainda não comprou ingresso para ver Nick Cave?

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A história com o Brasil é emotiva, histórica mesmo.

O tempo que está afastado de nossas terras é longo, período que já passa de duas décadas e meia.

Nesse ínterim, vários foram os momentos marcantes da carreira do homem, tanto em trabalhos importantes de estúdio quanto em shows inesquecíveis nos mais diversos locais do mundo em arenas lotadas e ainda até por atividades no cinema com trilhas sensacionais aqui e ali.

Mesmo na parte pessoal o cara teve altos e baixos com namoros com pessoas não menos interessantes que ele (P.J. Harvey vem logo à cabeça) e situações tristes como a morte do filho dois anos atrás.

Pois bem, tudo isso aconteceu e finalmente Nick Cave está de volta ao Brasil. E desta vez junto com sua maravilhosa banda The Bad Seeds.

Portanto, não há outro termo a ser usado para a apresentação única no país dentro do Espaço das Américas em 14 de Outubro que vem que não seja “Histórica e Imperdível”.

Então, tire esse bundão do local onde está sentado e corra para adquirir o ingresso.

O show faz parte do Popload Gig e as entradas podem ser compradas através do site ticketload.com.

O único problema é que o negócio é tão fora de série que as pessoas estão enlouquecidas atrás de um único ingresso.

Eu já comprei minha entrada, mas só consegui isso no segundo lote. Amigos me ligam desesperados dizendo que não estão conseguindo acessar o site. Eu fiz isso pelo aplicativo e, desta maneira, não foi tão difícil, mas a tendência é que ainda hoje acabem as chances para ver este mito ao vivo.

Não perca!

Lide com isso sem ter um infarto: Nick Cave estaria certo para shows na América do Sul

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Foi a própria esposa do cantor, Susie Cave, quem deu a deixa.

Se a coisa vai se confirmar não dá para cravar, mas a notícia não veio de qualquer um.

Uma integrante do grupo Nick Cave Fan Club na Argentina fez a seguinte pergunta para a mulher do cantor australiano em sua conta chamada The Vampire Wife: “Oi, Susie. Você sabe se Nick tem algum plano de fazer turnê na América do Sul? Estou esperando há tempos para vê-lo na Argentina“. Algo que deve ser rotineiro e sempre recebe um banho de água fria mudou por causa da resposta dela: “Sim, no próximo ano. Eu acho que por volta de abril“.

O fã clube brasileiro do artista Nick Cave and the Bad Seeds Brasil republicou em sua página no Facebook e o alvoroço já estava feito.

Mas é bom que se diga que além de não ser algo oficial a moça simplesmente falou que ele deve vir para a América do Sul, sem nenhuma informação mais detalhada.

Nick Cave já tocou no Brasil, mais precisamente em São Paulo no antigo Projeto SP, ainda no final dos anos 80, morou aqui por alguns anos, tem um filho com uma brasileira, mas nunca mais voltou pra cá.

Esperamos realmente que o que foi dito por Susie seja confirmado. Ficaremos imensamente gratos!!!

 


 

Cat Power e Nick Cave juntos no mesmo palco em 2017

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A fantástica Charlyn Marie Marshall, ou simplesmente Cat Power, anunciou na última sexta-feira algumas datas de turnê conjunta com Nick Cave e sua Bad Seeds. O projeto de parceria foi ressaltado por várias publicações da imprensa musical mundial, mas foi através da Consequence of Sound que tivemos maior confiança na veracidade por conta dos locais dos shows.

A cantora/compositora se unirá a Cave e seu grupo de virtuoses em apresentações que se iniciam no Kings Theatre no Brooklin – Nova York e finaliza sua participação em Los Angeles California no Greek Theatre. A lista completa de locais e datas estão logo abaixo.

Atualmente o australiano faz turnê para divulgar o álbum Skeleton Tree, lançado ano passado.

 

Nick Cave and the Bad Seeds and Cat Power:

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05-26 Brooklyn, NY – Kings Theatre
05-29 Montreal, Quebec – Metropolis
05-31 Toronto, Ontario – Massey Hall
06-01 Toronto, Ontario – Massey Hall
06-03 Detroit, MI – Masonic Temple Theatre
06-05 Philadelphia, PA – Electric Factory
06-07 Asheville, NC – Thomas Wolfe Auditorium
06-08 Pittsburgh, PA – The Warhol at Carnegie Music Hall
06-10 Boston, MA – Boch Center Wang Theatre
06-13 New York, NY – Beacon Theatre
06-14 New York, NY – Beacon Theatre
06-16 Chicago, IL – Auditorium Theatre
06-18 Denver, CO – Paramount Theatre
06-19 Salt Lake City, UT – Kingsbury Hall
06-21 Portland, OR – Arlene Schnitzer Concert Hall
06-22 Vancouver, British Columbia – Queen Elizabeth Theatre
06-24 Berkeley, CA – Greek Theatre
06-26 San Diego, CA – Civic Theatre
06-29 Los Angeles, CA – Greek Theatre


Nick Cave and the Bad Seeds – Jesus Alone 

 


 

Conheça a autoluminescência musical de Rowland S. Howard, um dos grandes parceiros de Nick Cave

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Estou ofuscante, autoluminescente, sou um calor branco, um enviado do céu. Eu era um pesadelo, mas não vou voltar lá novamente”.

Rowland S. Howard foi um músico australiano, conhecido por seu trabalho na banda The Birthday Party, suas colaborações com Nick Cave, Blixa Bargeld e Lydia Lunch, além de sua curta, mas estupenda carreira solo.

Escreveu a música “Shivers” aos 16 anos, lançada como single ao lado do The Birthday Party mais tarde, berço de muitos talentos. Howard era um deles. Uma figura melancólica de olhos tristes e cigarro nos dedos, sorriso contido e autoentrega ímpar a qualquer projeto em que estivesse engajado.

Seu primeiro disco solo, “Teenage Snuff Film“, de 1999, mostra uma sonoridade madura e direta, embalada pela voz incisiva de Howard e letras de extrema vulnerabilidade, como “Autoluminescent” e “Silver Chain“.

Em outubro de 2009, Howard faz a seguinte declaração: “Contraí câncer no fígado. Se eu não conseguir o transplante que estou esperando, as coisas talvez não fiquem muito bem, então…”.

Então nasce “Pop Crimes“, o último no legado do músico. A voz de Howard passeia calmamente por versos entremeados de Ave Marias e pirulitos de fentanil (medicamentos próprios de quem contrai o câncer). “A vida é o que você faz dela, não odeia isso?“.

Falece dois meses e meio mais tarde, aos 50 anos, sucumbindo ao hepatocarcinoma.

Como já dito por Nick Cave, Mick Harvey e qualquer outro que tenha trabalhado ao seu lado: o diferencial de Howard era sua vontade de viver.

Para alguns, música é sinônimo de redenção.

***Giovana Bastos Oliveira é colaboradora do Blog***

NME inaugura temporada de listas do ano

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Neste ano a explosão de listas de melhores do ano começou cedo. Não é nem a última semana de Novembro e já temos a primeira dentre as grandes publicações mundiais.

Quem tem a oportunidade de puxar vários holofotes para si com essa possibilidade é a NME (New Musical Express) que nem mais é revista impressa, tendo sua tiragem apenas via internet.

o Top 50 tem vários ponto positivos, muitos nomes do mainstream no meio, uma galera que pode ser contestada aqui e ali e bastante coisa a ser considerada já que não é uma lista apenas do rock sendo melhor chamar de parada pop.

Abaixo veremos David Bowie, Iggy Pop e Nick Cave conviverem com Kanye West, Frank Ocean e Lady Gaga e novatos como The 1975 e Bastille estarem lado a lado com Bon Iver e Green Day. E que venham as próximas para falarmos bem ou mal, mas que venham!

 


 

Top 50 da NME (Álbuns)

50. Bon Iver – ’22 A Million’
49. Public Access TV – ‘Never Enough’
47. Wild Beasts – ‘Boy King’
46. Savages – ‘Adore Life’ (foto)

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45. Car Seat Headrest – ‘Teens Of Denial’
44. The Lemon Twigs – ‘Do Hollywood’
43. Anohni – ‘Hopelessness’
42. Whitney – ‘Light Upon The Lake’
41. Solange – ‘A Seat At The Table
40. Rihanna – ‘Anti’
39. Green Day – ‘Revolution Radio’
38. Slaves – ‘Take Control’
37. Soft Hair – ‘Soft Hair’
36. Swet Shop Boys – ‘Cashmere’
35. Glass Animals – ‘How To Be A Human Being’
34. Let’s Eat Grandma – ‘I, Gemini’
33. Margo Price – ‘Midwest Farmers Daughter’
32. Kings Of Leon – ‘Walls’
31. Bastille – ‘Wild World’
30. Nao – ‘For All We Know’
29. Kate Tempest – ‘Let Them Eat Chaos’
28. Goat – ‘Requiem’
27. Giggs – ‘Landlord’
26. Biffy Clyro – ‘Ellipsis’
25. Blossoms – ‘Blossoms’
24. Nick Cave And The Bad Seeds – ‘Skeleton Tree’ (foto)

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23. Michael Kiwanuka – ‘Love And Hate’
22. Radiohead – ‘A Moon-shaped-pool’
21. Anderson. Paak – ‘Malibu’
20. Lady Gaga – ‘Joanne’
19. White – ‘Lung Paradise’
18. Tegan And Sara – ‘Love You To Death’
17. Drake – ‘Views’
16. Danny Brown – ‘Atrocity Exhibition’
15. Kano – ‘Made In The Manor’
14. Jamie T – ‘Trick’
13. Angel Olsen – ‘My Woman’ (foto)

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12. Sunflower Bean – ‘Human Ceremony’
11. Beyonce – ‘Lemonade’
10. Frank Ocean – ‘Blond’
9. Chance The Rapper – ‘Coloring Book’
8. Iggy Pop – ‘Post Pop Depression’
7. Diiv – ‘Is The Is Are’
6. David Bowie – ‘Backstair’
5. Kaytranada – ‘99.9%’
4. Skepta – ‘Konnichiwa’
3. Christine And The Queens – ‘Chaleur Humaine’
2. Kanye West – ‘The Life Of Pablo’
1. The 1975 – ‘I Like It When You Sleep For You Are So (foto)

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Assista à prévia do novo disco de Nick Cave

 

Algo que seria incomum para o lançamento de um disco irá acontecer já agora ao final de agosto.

Durante o Festival de Cinema de Veneza, Nick Cave, junto à sua Bad Seeds, irá lançar seu próximo disco, “Skeleton Tree”, através de filme que depois será exibido em salas das principais capitais do mundo inteiro. Ainda não se sabe se teremos o mesmo prazer por esses nossos lados.

O longa se chama “One More Time With Feeling”, foi dirigido por Andrew Dominik e está longe de ser a primeira incursão do cantor australiano na tela grande. Além de já ter suas canções tocadas em inúmeros filmes, ele também já fez trilhas sonoras em “A Proposta” (2005), “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” (2007), no qual também fez uma pontinha e “Os Infratores” (2012), só para ficar em alguns exemplos.

Mas o grande filme dele foi mesmo o que fala sobre si próprio, o lindíssimo “20000 Dias na Terra” (2014), em que faz uma espécie de documentário fake.

Este novo disco de Nick será o 16º de sua carreira e está sendo bastante especulada a sua inspiração poética, pois aparece após um período trágico da vida do artista, que teve no último ano a fatalidade de ter a perda de um de seus filhos.

Imagem de Cena do Filme

O longa em questão mostrará Nick Cave compondo, preparando e gravando o disco e também através de entrevistas e monólogos, algo semelhante à produção anterior.

Portanto, “One More Time with Feeling” será visto pela primeira vez no dia 31 de agosto em Veneza e depois no dia 8 de setembro, por meio de lançamento mundial. Logo na sequência, no dia 9, “Skeleton Tree” sairá em vinil, CD e através das plataformas de acesso mais conhecidas.

Para ficarmos mais ansiosos com o retorno deste cara de voz forte e canções matadoras temos o trailer que saiu ontem.

Nick Cave: novo disco sai em setembro com show transmitido pelo cinema

Nick Cave, o mega artista fodástico, e seu grupo The Bad Seeds, anunciaram para setembro o lançamento do novo álbum “Skeleton Tree”, sucessor do ótimo “Push the Sky Away” (2013).

Para celebrar o lançamento do disco haverá uma ação por vários cinemas do mundo com transmissão ao vivo de um show da banda dia 8 de setembro (o disco sai no dia seguinte).

Por enquanto, o Brasil ainda não está confirmado entre os países onde isto acontecerá.

O anúncio de um trabalho novo do artista acaba sendo recebido com uma certa surpresa já que ele parecia viver enclausurado em sua casa desde a morte trágica de seu filho no ano passado.

Há inclusive rumores de que foi a ocupação com as letras das músicas de Skeleton Tree que fez com que ele desabafasse o que estava sentindo internamente.

Como todo disco do australiano possui elementos diferentes é quase impossível prever como ele virá à tona. Mas também é este um dos motivos pelos quais o músico é tão imprevisível e tão autêntico.

Abaixo, o cartaz com as informações sobre o álbum e o show:

Falar do tinhoso também é expressão artística?

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Para iniciar este texto é importante salientar que sou ateu, portanto não acredito em deuses e muito menos em demônios.

Dito isso, achei por bem fazer uso da escrita para defender uma causa acerca da expressão artística, pois nos últimos dias tenho visto muita gente falar a respeito do tema sem que se debruce de fato sobre questões caras do fato.

Tudo começou quando a artista transexual (que infelizmente não consegui colher o nome já que a polêmica instalada na web não deixou nem que tivéssemos informação sobre a pessoa difamada no caso) realizou uma intervenção durante a Parada Gay de São Paulo na qual se travestiu de Jesus Cristo e foi “crucificada” em processo tanto realista quanto bem feito.

Não é necessário dizer que a enxurrada de críticas realizada por homofóbicos, conservadores e fundamentalistas religiosos aconteceu de forma vertiginosa e preconceituosa por meio da internet e através dos porta-vozes com imunidade parlamentar (Marco Feliciano) e ignorância atroz (Silas Malafaia).

Tomo como partida da discussão do título este fato recente para demonstrar outro debate que visualizei na timeline do Facebook nos últimos dias por conta do lançamento do novo álbum do Slayer, “Repentless”, no qual há uma pintura em sua capa (realizada pelo artista brasileiro Marcelo Vasco, inclusive) na qual é retratado Jesus Cristo em seu leito de morte (a famosa crucificação) sendo mostrado na parte central enquanto no entorno vemos pessoas queimando em algo que poderia ser definido como o fogo do Inferno inventado por Dante Alighieri em A Divina Comédia.

Veja abaixo a imagem da capa:

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Muitas pessoas se indignaram com a ilustração (parece que nunca viram uma capa de disco de bandas de Black Metal) confirmando algo que já virou tendência por aí: estamos nos aproximando de uma nova Idade das Trevas, na qual o fundamentalismo religioso toma conta de todos e todas e dilacera qualquer possibilidade de discussão em bom nível sobre qualquer assunto.

Se um clérigo da Igreja Católica disse ou o pastor de sua seita evangélica afirmou então não há mais o que dizer contra, devemos mandar aquele sob o qual há uma acusação para a fogueira vingadora do Cristianismo para que arda eternamente.

Neste ponto, há de se considerar algumas bravas exceções de líderes religiosos, nas quais se enquadra o Papa Francisco que tem se dedicado mais a uma batalha com a ala mais tradicional da Igreja do que em se embrenhar com bobagens preconceituosas.

Dessa forma, a atividade artística pode seguir tendências, pode ser panfletária ou simplesmente narradora de uma história.

Músicas com temática pautada em mitologia também não fogem a tal regra.

Há inúmeras bandas que somente fazem uso da narração para contar algo (Black Sabbath é o pioneiro) assim como há outras em que o assunto é levado mais para o lado pessoal. O exemplo maior de tal situação talvez seja Varg Vikernes e seu Burzum, pois ele era quase que um militante contra a Igreja Católica, mesmo que para isso nunca tenha declarado claramente que fosse satanista.

O problema é que as pessoas tendem a achar que todo apreciador de Heavy Metal tenha um altar voltado para a adoração ao Capeta.

Isso é um estereótipo batido, mas que ainda leva muita gente ao erro.

Para fazer uma analogia ilustrativa: um diretor de cinema não precisa ser satanista ou algo do gênero para falar sobre demônios em seus filmes. Quando William Friedkin dirigiu “O Exorcista” houve muita celeuma por causa dos bastidores da trama, mas ninguém o acusou de servir ao capiroto.

Vou dar outro exemplo interessante na música: Nick Cave não é religioso (muitos dizem que ele é ateu), mas muitas de suas canções falam de Deus. O cara faz uso do Gospel (gênero musical normalmente entoado em Igrejas Pentecostais americanas) de forma tão brilhante que um desavisado poderia afirmar com toda a certeza de que se trata de um religioso compulsivo. A verdade é que o cantor australiano utiliza a música para não somente passar uma mensagem, mas também para narrar histórias.

E a questão que envolve contar histórias não precisa necessariamente ter a ver com a concordância de opinião com seus personagens, contextos e desfechos.

Assim sendo, o que seria de narrações em que o tema do nazismo está em pauta? Será que alguém já pensou que livros passados em diversos momentos históricos poderiam ter a conivência intelectual de seus autores com as atrocidades ocorridas em suas páginas? Tenho certeza que não.

Mas tudo só é possível por causa do conhecimento de mundo e da maneira como este pode ser visto depois de desvendadas algumas sombras a frente de nossos olhos.

Quem ainda é comandado pela ira incivilizada e medieval de líderes fundamentalistas que precisam de um rebanho manso e cabisbaixo para que possam regrar suas vidas ainda se ressente de compreensão acerca do que é expressão artística, do que pode ser analisada como liberdade de expressão e não entendem o que é ser livre para ter pensamentos opostos ao dele.

Mas mesmo que seja religioso e defensor de sua fé, a pessoa que consegue ultrapassar a usura do conservadorismo para ver algo além da própria igreja, pode depreender que num Estado democrático as pessoas podem se expressar livremente desde que não atinjam a liberdade alheia.

E neste ponto é importante salientar que mesmo uma crítica a uma religião não incorre em desagravo normativo ou em desacato da lei, pois discutir, fazer humor ou promover debates sobre instituições (quaisquer que sejam) não inflige nossa constituição já que é parte do jogo democrático e faz bem para o cérebro.

Aliás, uma pessoa tem direito, inclusive de adorar a qualquer deus ou demônio já que a lei permite liberdade de credo também. O que não se pode fazer de forma alguma é discriminar, agredir ou promover ódio contra quem não pensa igual a você. Neste ponto, caro apreciador do rock pesado, quando alguém vier falar para você que sua música é contra deus ou sua igreja já alguns argumentos para serem discutidos em prol de uma melhor visão por parte dele em relação ao que é expressão artística. Muitas vezes o que há tão somente é um escritor de textos narrados por um eu-lírico. E isso sempre existiu na literatura ou na música.

“Nick Cave: 20.000 Dias na Terra” – O que mais é necessário para um filme ser indicado ao Oscar?

Bem filmado e dirigido, com edição fantástica, roteiro belíssimo, sem nem falar da perfeita trilha sonora. Este é “20.000 dias na Terra”, filme sobre Nick Cave, que nem está indicado ao Oscar.

Enquanto isso, bombas como “Birdman”, “Foxcatcher” e “A Teoria de Tudo” estão na disputa.

E o mais interessante é o seguinte: todas as películas citadas acima são sobre personagens extremamente interessantes, mas as produções descambam para soluções fáceis, roteiros mirabolantes que sabem mais ser visualmente vibrantes do que no conteúdo completo, além de dramalhões que bem podiam estar no horário nobre do SBT.

O que acontece com “20.000 Dias…” é que ele bem podia ser sobre um personagem fictício, um indivíduo inventado, inverídico e que poderia fascinar menos a plateia do que o próprio Nick Cave o faz durante a projeção do filme.

É ele o dono do roteiro em parceria com Iain Forsyth e Jane Polland, dupla que também dirige o longa travestido de documentário (ou seria o inverso?).

Tal script funciona inicialmente como um grande poema, mas vai se transformando numa narração entre a biografia do cantor australiano e uma divagação sobre assuntos etéreos e/ou transcendentais.

Discussões sobre Deus, o amor, a perda, o relacionamento familiar e paterno, a crise existencial da meia idade, a relação com as drogas e a Igreja são muitas das diversas falas entre Nick e seus interlocutores.

Além da óbvia e necessária apresentação de sua esposa, Susie, que interessantemente não possui nenhuma fala durante o filme, mas que recebe uma homenagem do artista numa das mais belas declarações de amor já vistas no cinema, até os encontros com Warren Ellis, amigo e companheiro de Bad Seeds, até os outros músicos da banda como Thomas Wydler,Jim Sclavunos e a D.R. com Mick Harvey (ex-integrante do grupo), num dos momentos tensos do longa, tudo é muito bem feito em “20.000 Dias…”.

As conversas com o psicólogo Darian Leader rendem questionamentos profundos e as sacadas de Cave só são possíveis por que o doutor realiza as perguntas necessários para isso. Isso rende reminiscências precisas do cantor e, mesmo sem revelar uma infância doída, traz à tona um saudosismo que, de vez em quando se vê em suas canções.

Aliás, muito do que é o repertório do artista se descortina por meio de suas conversas e monólogos narrativos.

Logo, tratar da saudade da infância não significa especificamente um sentimento ruim, mas um repeito ao passado, tanto que ao lembrar de tempos difíceis ligados ao envolvimento com todo tipo de droga pesada, não há constrangimento nem meias palavras. E este trecho revela uma das melhores sacadas do filme quando ele diz que costumava ir atrás de drogas pouco depois de ir à Igreja todos os dias: “Quando conheci Susie ela logo me disse que eu teria de largar isso de uma vez por todas, pois estava me fazendo muito mal. Ou eu parava de ir à Igreja ou iria ao fundo do poço”.

Até mesmo quando fala de seus diferentes locais de moradia, muita coisa interessante é lançada ao espectador: um causo sobre um momento em que morava em Berlim (e as fotos tanto da banda quanto de seu quarto são ótimas), quanto sua mudança para Brighton geram instantes mais do que reveladores sobre a essência do australiano.

Outras passagens que podem se tornar inesquecíveis são as conversas em seu carro (destaque para Mick Harvey e Kylie Minogue), a conversa sobre Nina Simone com Warren Ellis (que é apenas uma repetição da mesmo história contada ao psicólogo) enquanto comem uma deliciosa enguia e a visita ao seu arquivo pessoal.

O fato também de o filme ser realizado ao mesmo tempo em que os ensaios estão a pleno vapor para “Push the Sky Away”, serve para impulsionar a trilha sonora, pois estamos diante de uma das melhores fases da carreira de e Cave e da Bad Seeds.

Há também três ou quatro momentos de rara sensibilidade do detentor da câmera durante a passagem de som da banda no estúdio ou no palco antes de algum show que retratam a profunda transformação da qual Nick fala a respeito em duas ou três ocasiões.

Enfim, o filme pode parece lento para quem não conhece a relevância de Nick Cave para a música dos últimos quarenta anos, e pode ser que seja mesmo, mas este é o detalhe que talvez o espectador não perceba como mais importante para a beleza do filme. Está se tratando aqui não de uma ode a um artista, mas sim ao desnudar de sua condição como ídolo inalcançável.

Ao final da produção pode até não ser possível entender totalmente o que é este cara chamado Nick Cave, mas suas palavras não saem mais de você após a apresentação de tudo o que se viu. Vê-se, portanto, que a magnitude de uma carreira artística não precisa somente ser um sucesso total e global, mas carece de profundidade na forma e no conteúdo com que é demonstrado a quem se deixou levar pela sua genialidade. E isso Nick Cave tem de sobra (e o filme também).

Veja o Trailer: