Muito sol e calor no sábado; Friaca, garoa e lama no domingo.
O Lollapalooza Brasil 2015 teve dois dias bem distintos não só nos quesitos tempo e temperatura, mas também em seu line-up.
Alguns problemas técnicos no primeiro dia com falha na tecnologia das máquinas que recebem os pagamentos via cartão, falta de energia elétrica em alguns pontos, mas tudo resolvido a tempo de não oferecer maior tumulto tanto no sábado quanto na continuidade realizada no domingo.
Com a experiência de ter enfrentado a mesma maratona de shows no ano passado, o blog conseguiu angariar para a sua coleção de apresentações mais atrações do que o festival anterior.
Dessa forma, foram dez bandas assistidas por completo e mais duas parcialmente.
Assim, ficou mais fácil de realizar um top ten aleatório com alguns momentos mágicos acontecidos durante o evento em Interlagos.
A psicodelia contagiante do Boogarins
Se há uma banda brasileira atual com cacoete para grandes festivais ao mesmo tempo em que sabe ser intimista quando quer é esse Boogarins.
Os goianienses são realmente muito bons no palco e sua psicodelia inerente promove instantes de pura virtuose enquanto traz outras situações em que sua canções proporcionam uma viagem sonora e cerebral.
A apresentação rápida (cerca de 55 minutos) não teve pressa de acontecer com alguns momentos de experimentações instrumentais de seus integrantes, mas também não deixou de fora músicas ótimas de seu primeiro disco lançado em 2013, o “As Plantas que Curam” que acabou sendo relançado para o resto do mundo pelo selo americano.
O fato de Marina and the Diamonds ter cancelado seu show no mesmo palco onde a banda brasileira tocou os favoreceu, pois demoraram mais para entrar em cena e mais gente pôde assisti-los e conheceram seu som contagiante.
Pontos altos para as músicas “Avalanche”, “Lucifernandis”, “Erre” e “Infinu” que fizeram todo mundo cair na dança no palco Axe.
A esquisitice legal do Alt-J
Quando esses ingleses apareceram na cena local indie em 2012 com o estranhíssimo “An Awesome Wave” ninguém poderia poderia supor que eles estariam nos principais festivais do mundo no ano de 2015.
A estreia de “This is All Yours” facilitou a questão, pois entraram nas paradas europeias e caiu no gosto americano também.
Perceber que uma banda altamente experimental e que abusa dos truques vocais em consonância com a instrumentação perfeita de seus integrantes e a ambientação interessante feita pelo teclado da banda é difícil de explicar, mas também é legal saber que o público adotou uma banda assim para gostar.
O fato de seus integrantes trocarem eventualmente de instrumentos também ajuda nessa ideia de que eles levam certa mudança para o cenário indie mundial.
O show foi cheio de experimentos, mas não deixou de lado os hits angariados por eles nos últimos anos.
Desta forma, houve bastante entusiasmo por parte da plateia que compreende que eles não nasceram para fazer presepada no palco e apoiam sua esquisitice musical.
Ponto alto para as faixas “Matilda”, “Tessellate” e “Every other freckle”, além de “Hunger of the Pine” que foi cantada em uníssono pelo público.
A batalha de guitarras entre St. Vincent e Toko Yasuda
Se o fato de ser imperdível o show da guitarrista americana se tornou verdade absoluta também é importante ressaltar que sua escolha por uma apresentação virtuosística foi extremamente acertada.
Além disso, a produção visual da cantora e de sua banda (reduzidíssima a apenas dois integrantes além dela) é algo muito bem cuidado e sua escolha por uma vestido preto maquiagem forte azul e verde e salto alto torna o show num espetáculo não apenas sonoro, mas num efeito visual incrível e bonito.
Desde o primeiro acorde de “Bring me Your Loves” até os hits “Digital Witness”, “Cheerleader”, “Birth In Reverse”, finalizando perfeitamente com “Your Lips Are Red”, tudo é muito bem realizado e treinado.
Até mesmo as dancinhas ensaiadas com sua tecladista e multi-instrumentista Toko Yasuda formam uma atração à parte. E é óbvio que a batalha de guitarras travada entre as duas está entre as melhores coisas vistas no festival deste ano.
Por fim, os solos de guitarra de Annie Clark promovem um espetáculo vibrante e apoteótico. Apresentação perfeita que só podia ter como reação do público aplausos efusivos.
A beleza da voz de Robert Plant e sua banda de excelência
É claro que aos 66 anos Robert Plant não possui mais o alcance vocal de 40 anos atrás. O abuso das drogas e álcool naquela época atrapalhou demais a garganta do ex-integrante do Led Zeppelin, mas ele ainda conta com uma coisa que nem o melhor vocalista atual conseguirá nos dias de hoje: experiência.
Através dessa qualidade Plant sabe como usar os timbres de voz da melhor forma possível e a beleza de seus arranjos permanece intacta.
Além disso, o cantor conseguiu reunir uma série de virtuoses ao seu redor para acompanha-lo em suas turnês. A banda intitulada Sensational Space Shifters é formada por gente muito boa.
Desde o baterista Dave Smith, o tecladista John Baggot, o baixista e guitarrista John Adams competentíssimos naquilo que produzem há uma certeza entre eles: devem fazer de tudo para que a estrela da companhia esteja sempre bem protegido para lançar mão de seus hits.
Uma atração realmente especial é ó multi-instrumentista gambiano Juldeh Camara, responsável pelas intervenções mais excêntricas e exóticas durante o show com um instrumento que parece a junção entre um berimbau com um violino e que faz um som sensacional que divaga entre os sons africanos e orientais.
Logo quando começou “Babe I’m Gonna Leave You” , música de Joan Baez regravada pelo Zeppelin em 1969, já havia quem se descabelasse achando que aquilo fosse um sonho. “The Lemon Song” foi mais um espetáculo impar.
Posteriormente, “Rainbow” e outras músicas do disco mais recente de Plant, ‘Lullaby… And The Ceaseless Roar” vieram e não chegaram a esfriar a plateia, pois sempre vinham em meio a sucessos do Led.
Por fim, uma pegada mais pesada com “Whole Lotta Love” e o último suspiro com a não menos incônica “Rock’n Roll”. Os roqueiros de longa data saíram de alma lavada.
Jack White Transforma Palco Skol num grande Saloon
Que Jack White é um excelente músico e não arreda o pé de fazer experimentalismos em seus som e na maneira de tocar isso é uma verdade incontestável, mas a apresentação dele sempre é diferente onde quer que seja.
É formidável que haja um artista assim no cenário musical atual, pois sabemos que dá para aproveitar ao máximo tudo aquilo que sai de sua mente criativa.
O show dele, portanto, é muito bom não só por conta com hits da época de White Stripes, mas também é favorecido pelas intervenções do período em que trabalhou no The Racounters, além de se valer de suas ótimas músicas dos dois discos solos que fizeram dele um queridinho do mundo indie.
Mas há um plus: sua banda de apoio é sensacional!
Só isso já basta para se alegrar a assistir a essa apresentação irrepreensível, mas o baile de saloon no qual foi transformado o local onde tocou neste sábado fez com que Jack White esteja entre os melhores artistas que já pisaram por esses lados de Interlagos quando o assunto é Lollapalooza.
Molotov faz o show mais animado do Lolla 2015
Um show energético que fez o público entrar em pura insanidade durante boa parte de sua apresentação fez com que a banda mexicana fosse promovida a artista mais animado do festival de forma disparada.
É óbvio que o carisma de todos os seus integrantes em cima do palco e a forma anárquica com que realiza seu show facilita esse contato com a galera, mas também o Molotov é carregado por muitos hits ao longo da 1 hora de atividade enlouquecida.
O único momento em que houve uma rodinha de bate-cabeça durante todo o Lollapalooza 2015 também é de inteira responsabilidade dos chicos e a mistura entre as mudanças de instrumentos por parte de seu guitarrista e seu baterista em consonância com os efeitos visuais no telão (desde seios abundantes até líderes mundiais imbecilizados) também foram pontos altos do show do Molotov.
A plateia agradecida gritou muito durante a última música “Puto” e o nome da banda foi repetido inúmeras vezes ao final da apresentação.
Interpol aproveita chuva para desfilar suas letras sombrias
Uma banda calejada em festivais com um líder como paul Banks inspirado e afiado com seus hits e novas músicas.
Este é o Interpol, que ainda teve em seu guitarrista Daniel Kessler bem empolgado com o público e com seu instrumento de trabalho e a competência característica de Brad Truax e Sam Fogarino.
Aliás, muito da competência em palco se deve ao entrosamento entre Banks e Kessler.
O último álbum “El Pintor” foi bastante favorecido no set da banda com “All the Rage Back Home”, por exemplo, mas hits como “Evil”, “NYC” e a derradeira “Slow Hands”, todas inspiradas na depressão estilo Joy Division foram favorecidos pela garoa que insistiu em cair durante boa parte do show.
Muitos fãs foram angariados para a apresentação da banda americana e o resultado não foi desanimador, apesar de terem sido ouvidas reclamações ao final da curta estadia da banda no palco (cerca de 1 hora) de músicas que ficaram fora do set list.
Pitty: a Salvação do Rock Nacional
Falem o que quiser da Pitty: há quem diga que suas letras são fracas, outros dizem que ela poderia ser mais contundente na maneira de ser um ídolo roqueiro nacional, mas ninguém pode reclamar que ela não saiba segurar uma plateia.
Mesmo em relação às outras reclamações podemos dizer que houve um amadurecimento grande da cantora e para isso a experiência de sua boa banda também auxilia bastante.
Além disso, algumas declarações recentes dela fazem com que seja uma militante potente do cenário brasileiro.
A própria morte de Chorão há dois anos fez com que Pitty fosse alçada a maior estrela do rock por estes lados e a sua apresentação de ontem pode provar e comprovar isso.
Uma fileira de hits com as músicas novas sendo todas cantadas por um público que não é mais somente aquele cheio de garotinhas empolgadas.
Já se percebem alguns marmanjos no meio disso tudo e a forma como Pitty se sente mais segura em cima do palco faz com que isso seja mais claro e evidente de um tempo para cá.
Ela, provavelmente, seja a salvadora do rock nacional nesses tempos de vacas magras.
Pharrel Williams e seu caminhão de hits
O rapaz é um fazedor de sucessos.
Desde os anos 90 já passeia pelas paradas mundiais, mas foi com o trabalho realizado com o Daft Punk que sua música começou a ser mais presente nas rádios daqui.
Além disso, seu mais recente disco promoveu muita celeuma por conta da facilidade com que transmite a essência da música mainstream: refrões fortes, riffs fáceis e música potente. Sucesso total!
Claro que a recente condenação de plágio pela música “Happy” vencida pela família de Marvin Gaye minimizam um pouco a genialidade de Pharrell, mas o rapaz continua muito talentoso e isso não muda sua posição em cima do palco.
O resultado é um festival de ótimos sons e muito carisma por parte dele até chegar ao momento mais esperado em que todos queriam gritar “Because I’m Happy”.
E tome um monte de meninas felizes batendo palmas sem parar ao lado dele até o fina apoteótico com fogos de artifício.
Billy Corgan e seu mau humor a favor do Rock
O Smashing Pumpkins tem uma história sólida no rock mundial por conta de três ou quatro álbuns quase perfeitos do início de sua carreira.
Após um hiato de alguns anos e muitas brigas e demissões da banda (muito por causa do temperamento de Billy Corgan) a oscilação se tornou característica do grupo.
Hoje temos apenas uma banda de apoio para que Billy desfile as grandes músicas do Pumpkins, mas não se pode reclamar da qualidade do som.
O rapaz continua centralizando as atenções todas e sua voz peculiar acaba por condensar mesmo tudo aquilo que se aplica ao nome famoso do grupo americano.
O resto dos componentes tem peso, pois conta com músicos do Rage Against the Machine e The Killers, mas é no careca gordinho que todos prestam atenção.
O show durou cerca de uma hora e meia e fechou a noite no palco Axe. O fato de tocar para um público menor acabou sendo bom, por selecionar os fãs que conhecem mais como funciona a cabeça do líder (ou único integrante real) da banda.
O repertório do novo álbum “Monuments to an elegy”, conta com canções diretas e acessíveis que não se esperavam do complicado Corgan a essa altura e tiveram boa recepção por parte da plateia. A sequência “Being beige” e “Drum + five” foi um bom exemplo.
Não têm o poder de “Tonight, tonight” (que contou com um errinho de Corgan) ou “Bullet with butterfly wings”, mas possuem punch para uma apresentação grande.
O final com “Today” ficou esquisito, pois o rapaz quis fazer um esquema meio bossa nova que ninguém entendeu, mas fechou melhor com o público cantando junto com o Smashing Pumpkins que sobrou, seu líder solitário, que enquanto finalizava a canção já percebia os fogos sendo lançados no palco de Pharrell que já havia feito todos felizes por aqueles lados.