Pensou que não ia ter mais lista de álbuns do ano? Pensou errado, caro leitor!
Claro que o blog não esqueceu de seu ranking com os preferidos discos de 2018 e como sempre a gente está falando de uma lista baseada em gosto pessoal é importante frisar que ela não pretende ser definitiva, a não ser para a própria página.
Dessa forma, vai ser fácil de compreender que o indie rock, o shoegaze, o synthpop, o prog e outros ritmos próximos povoarão mais o número total de bandas e artistas citados aqui embaixo.
Também é necessário dizer que só estão nesses 20 discos produções cheias, não sendo possível incluir EPs ou Singles lançados pelos artistas mundo afora, algo que poderia facilmente incluir os trabalhos de Waxahatchee (Great Thunder) ou do inventivo supergrupo criado por Sia, Labirinth e Diplo, o LSD com um EP homônimo.
Vale frisar que a lista é recheada por artistas femininas e essa tendência deve prosseguir em 2019, pois a qualidade empenhada pelas meninas tanto no cenário nacional quanto no internacional é digno de nota.
E que o ano que vem venha cheio de ótimas surpresas para nossos ouvidos e que tenhamos tempo e possibilidade para garimpar mais coisa boa por aí. Ah, e você vai perceber que no meio do ranking haverá artistas brasileiros, tamanha a qualidade do citado. Vamos lá!
Lembrando que o blog entra em recesso e volta no final de Janeiro. Um abraço!
20º Lugar – Baco Exu do Blues (Bluesman)
Vem da Bahia o rapper Diogo Moncorvo que nos brindou já no final de Novembro com o ótimo “Bluesman”, que não só tem as contribuições interessantes de Tim Bernardes, 1LUM3, Tuyo, DKVPZ e Bibi Caetano, mas tem em suas bases eletrônicas uma aproximação com artistas como Kendrick Lamar, mas é mais impressionante ao usar ritmos brasileiros como o samba para facilitar sua letra política. E é mais que isso: é social, é crítico ao sistema e à segregação que o povo negro sofre no país, além de demonstrar sentimentos impressos em qualquer pessoa comum destes lados do hemisfério sul. O amor está presente de maneira rasgada, a raiva está lá, a depressão aparece de forma simples e direta, a sensação de impotência frente aos problemas se mostra clara, mas a necessidade de lutar é o que vence ao final. Dessa forma, é um disco imprescindível para a nossa música.
19º Lugar – Aurora (Infections of a Diferente Kind)
O segundo trabalho é sempre um desafio difícil para qualquer artista que fez muito sucesso em sua primeira incursão em estúdio e não seria diferente para Aurora, cantora norueguesa que virou um ídolo imediato para uma legião de fãs que encheram sua primeira apresentação aqui no Brasil no Rio e em São Paulo ano passado e ainda tiveram a oportunidade de vê-la novamente no Lolla Br deste 2018. Mas o que poderia ter virado uma maldição para a artista de apenas 22 anos parece ter se tornado um alívio (para ela e para quem gosta realmente de sua música). A sua sonoridade continua Pop, mas há um revestimento cada vez mais intrínseco de ritmos nórdicos que se soltam através de sua voz magnífica e a diversidade e a calma que esse ambiente todo gera em quem ouve provoca uma tranquilidade que pode não ter feito sucesso na sua horda de fanáticos chatonildos, mas é simples prova de sua maturidade artística.
18º Lugar – MGMT (Little Dark Angel)
O quarto álbum de estúdio da banda saiu ainda em Fevereiro deste ano, mas suas principais músicas ficaram gravadas na cabeça o ano todo, até mesmo pelo fato de que haveria apresentação deles (muito boa, aliás) no Popload Festival em Novembro. Sendo assim, canções como Little Dark Age, Me and Michael, She Works Out Too Much e James entram no panteão de hits que o grupo conseguiu colecionar em sua carreira. A produção feita pelos próprios integrantes também ajuda na limpeza do som e o resultado final não poderia ter saído melhor com uma maior variedade entre o indie, o pop e até mesmo algo próximo do pós punk e do gothic rock.
17º Lugar – Belly (Dove)
Nunca imaginei que uma banda favorita de minha adolescência poderia entrar num ranking de melhores álbuns em 2018. Lá se vão 23 anos desde o lançamento de King, uma pequena joia preciosa que Tanya Donelly e companhia gravaram e trouxeram para o mundo canções lindas como a própria King, Super-Connected e Silverfish. Agora o grupo de Rhode Island volta com esse belíssimo Dove, um álbum que não é só feito de nostalgia por causa dos riffs que emulam a própria banda nos anos 90, além de Throwing Muses e The Breeders, mas também por se segurar na voz de Tanya e nas guitarras bem ritmadas de Thomas Gorman e na cozinha impecável de Gail Greenwood e Chris Gorman uma lição básica para artistas atuais de como fazer bom rock sem precisar de muita frescura.
16º Lugar – Bruce Springsteen (Springsteen on Broadway)
Difícil definir o trabalho de um artista que já é considerado um ícone na história da música e do rock, mas Bruce Springsteen sempre se renova. Não adianta apenas ser mágico no palco, não é suficiente somente ter uma carreira consistente e profícua, ele ainda é capaz de surpreender. Depois de estrelar por quase um ano uma apresentação cinco vezes por semana no estilo mais intimista no Walter Kerr Theatre, na Brodway, em que toca apenas sua guitarra e um piano e conta detalhes de sua discografia e vida para um seleto grupo de pessoas que encheu o teatro nesse período, o cara resolveu colocar tudo isso num álbum que capta de fato essa sensação de estarmos diante de um artista despido daquela aura estrelar dos megaconcertos. Só isso já valeria o disco, mas a maneira como ele é tocado vale mais ainda e clássicos ficam mais próximos de uma execução diferente e atual. Lembrando que há o filme em exibição na Netflix que também é imperdível.
15º Lugar – David Byrne (American Utopia)
Outro cara que dispensa apresentações é David Byrne e sua performance nos palcos não é novidade para ninguém, pois surpreende a cada turnê nova. Mas após o lançamento de American Utopia e sua proliferação de boas canções não se tinha ideia que sua ação nos shows seria tão boa. Pudemos comprovar isso no último Lolla Br quando foi considerado umas das melhores coisas no meio de tanta gente grande. Voltando ao álbum, estamos diante do mesmo artista instigado a procurar novos sons, ambientações diferentes e maneiras únicas de liberar sensações e sentimentos dos mais variados quando nos permitimos ao novo. E David Byrne é isso, uma nova coisa a cada novo passo.
14º Lugar – The Breeders – All Nerve
Outra banda que retornou após muitos anos parada foi The Breeders. Ciente de que ajudou a difundir um estilo que é importante até hoje para o rock mundial e de que também foi representante de uma abertura para as mulheres na cena internacional, Kim Deal e sua irmã Kelley Deal, já sem a integrante original Tanya Donelly que ressuscitou seu grupo Belly (que também já apareceu em nossa lista), recrutaram José Medeles e Mando Lopez para criarem este bem feito All Nerve. O oitavo álbum do projeto tem tudo o que catapultou The Breeders para a cena ainda nos anos 90: Indie Rock de primeira, nuances de Guitar Band, um tom letras inteligentes e uma vibe que vai te lançar ao encontro de uma era que é difícil de ser alcançada nos dias atuais.
13º Lugar – Julia Holter – Aviary
Desde quando conheci Julia Holter o incômodo foi uma das primeiras sensações que tive com esta cantora que dispensa arquétipos bem definidos e rótulos fechados numa gavetinha. Com experiência já comprovada, a menina se meteu agora na busca por novas sonoridades e os instrumentos para isso (literalmente e metaforicamente) são inúmeros e variados. Ela investe não só em sua voz bela e profunda, mas também em formato musicais que são estranhos e incomodam o ouvinte, não com algo ruim e inaudível, mas com algo que faz você raciocinar pela maneira como se desbrava em ambientes novos e fascinantes.
12º Lugar – Natalie Prass (The Future and the Past)
Uma cantora de excelência deve sempre respirar novos ares, colocar-se em novas pressões para se testar e testar o público. Com Natalie Prass não é diferente e sua capacidade vocal se permite a alçar novos voos nesse novo disco dela. A movimentação por estilos e ritmos diversos faz com que não só conheçamos uma nova artista, mas também nos dê motivo para compreender que ela pode ainda querer e fazer mais. E isso, caros amigos leitores, é muito mais do que temos tido por aí, sem dúvida nenhuma.
11º Lugar – Cat Power (Wanderer)
Neste novo álbum Cat Power mostra todo o seu poder como compositora assim como cantora e intérprete. Em Woman, por exemplo, ela divide a letra com Lana Del Rey e em outras partes do disco se dá ao trabalho de ir além no alcance vocal e na profundidade de seus textos. Se o folk ainda está lá ele vem acompanhado de guitarras e pianos inventivos e criativos. Além disso, a capacidade da garota para tirar bons riffs de canções extremamente simples é louvável e fascinante. Ela chegou a um patamar neste décimo trampo saído dos estúdios em que pode fazer o que quiser, mas mesmo assim o faz com elegância e perspicácia
10º Lugar – Still Corners (Slow Air)
A banda não é muito conhecida por esses lados do globo, mas o Still Corners tem muito a mostrar. Dono de uma ambientação que transita entre o Dream Pop que lembra Beach House em alguns momentos e o Synthpop do The XX em outros, o grupo chega ao quarto álbum atrás de variar suas bases para favorecer muito Tessa Murray e seu vocal mágico / hipnótico. O disco Slow Air é, nesse sentido, uma conversa entre a sonoridade que nos faz viajar e a cadência que bate fundo no coração promovendo um ótimo percurso em seus mais de 40 minutos de duração.
9º Lugar – Beach House (7)
O Dream Pop deve demais ao Beach House já que a francesa Victoria Legrand e o americano Alex Scally formam uma dupla que casa perfeitamente sua performance em estúdio com a capacidade de criar bons ambientes e um vocal esplêndido. Este álbum número 7 (também citado no título dele) tem muita coisa boa pra mostrar: desde a profundidade de suas bases eletrônicas que nos faz sonhar e varia entre batidas mais rápidas e espaços em branco que servem de aviso para a voz de Victoria até mesmo a calma e a paz que nos confortam e limpam nossos ouvidos e alma. Perfeito para momentos em que precisamos colocar a cabeça no lugar. A música tem dessas e isso é muito bom.
8º Lugar – Interpol (Marauder)
Depois de El Pintor, Paul Banks e companhia ficaram algum tempo reclusos para finalmente nos entregar essa paulada chamada Marauder. O disco é uma pancada do início ao fim e as linhas de guitarra que já nos acostumamos a encontrar na obra da banda estão todas lá. Com uma regularidade que vai da primeira à última música o álbum foi feito para ser escutado de uma vez só sem pausa nem pra respirar. Não é um trabalho conceitual, mas é como se fosse.
7º Lugar – Elena Tonra (Ex:Re)
O Daughter já povoa o cenário indie há algum tempo com seus dois discos no rol de grandes lançamentos dos últimos anos e ainda tendo sido convidado para a realização da trilha sonora do jogo Life is Strange. Mas é inegável que, apesar da sonoridade da banda ser incrível e de seus integrantes colocarem bastante sentimento nessa ambientação shoegaze / indie folk do grupo, a grande estrela da companhia se chama Elena Tonra. E é com a maciez e doçura de sua voz que ela debuta esplendidamente nesse projeto chamado Ex:Re. Ela deixa um pouco mais de lado a guitarra e abraça o violão e o piano e consegue brincar mais ainda com a facilidade de sua voz encantar os ouvidos atentos de seus fãs. Isso depõe a favor de sua carreira e, ao invés de ser um problema para seu trabalho no Daughter, pode até ser possibilidade de novos caminhos para a banda.
6º Lugar – Carne Doce (Tônus)
Tendo conseguido conquistar público e crítica com seus dois primeiros discos era normal que o Carne Doce alçasse novos voos já que sua energia e sua psicodelia pungente já estavam comprovados dentro do cenário indie nacional. E eis que o terceiro álbum Tônus conseguiu uma proeza que poucos grupos de nosso país conseguem: desacelerar completamente seu próprio ritmo sem que perdesse a energia. As música ainda continuam sensuais, mesmo eróticas, mas há ali uma aura mais calma, simples e compassada que faz com que possamos notar mais ainda as qualidades de Salma Jô e companhia. Um trabalho que ainda viaja por meio de guitarras e baixos bem tensos e profundos, mas que possui uma bateria mais simples e ritmada de forma cadenciada. Assim sendo, a banda goiana atinge um patamar de que pode ir pra qualquer caminho sem que fique taxado como pretensioso.
5º Lugar – Parquet Courts (Wide Awake!)
A mais profícua e energética banda punk dos dias atuais está de volta para seu disco de estúdio. Este Wide Awake! possui tudo aquilo que já fez do grupo um frequentador assíduo de festivais e detentor de uma das melhores apresentações ao vivo hoje em dia: há energia, diversidade de sonoridades que vai do hard core cru, passa pela música sessentista, viaja por canções de festa e passeia pela psicodelia sem ter medo de ser feliz. Um grupo que se percebe ter um prazer muito grande em fazer o que faz e que transmite isso com facilidade para sua plateia.
4º Lugar – Death Cab For Cutie (Thank You For Today)
Aquilo que começou como projeto solo do talentosíssimo Ben Gibbard, tornou-se uma banda já com seus vinte anos de idade. Para celebrar com maestria tal data o grupo de Indie Rock / Indie Folk lançou um álbum no meio do ano e arrebatou muitos corações mundo afora. Dono de uma sensibilidade mordaz para falar de inúmeros sentimentos ao longo de seus 38 minutos de duração, Thank You For Today é o nono álbum dos caras originários de Washington, EUA, mas pela empolgação como tratam seus instrumentos e se apaixonam por a execução de suas canções em cima do palco e no estúdio parece até que são debutantes. E ainda é um trabalho que coleciona hits e que merece ser cantado do início ao fim.
3º Lugar – Kurt Vile (Bottle It In)
Músico com quase 40 anos de idade, Kurt Vile faz o mais simples para obter aquilo que é mais difícil: qualidade e primazia naquilo que faz. Sua guitarra já é reconhecida a milhas de distância se o ouvinte tiver um tímpano mais apurado e sua técnica que se conflui perfeitamente com o trabalho de sua banda de apoio, The Violators, faz desse Bottle It In uma pérola do Indie Folk nos últimos tempos. Sabendo usar a influência que possui de artistas gabaritados como Bob Dylan, Tom Petty e Neil Young o rapaz só sabe tirar coisa boa dessa turma aí, mas sem perder a forma peculiar como canta e como toca seu instrumento, o que lhe dá bastante personalidade na hora de transmitir isso em estúdio ou nos seus shows. Com pequenos clássicos nesse novo álbum a carreira desse americano só tende a subir nos próximos anos.
2º Lugar – Mitski (Be The Cowboy)
Temos uma nova queridinha da América. Ao chegar ao seu quinto álbum Mitski coseguiu um padrão de qualidade que não se remete à sua vida, mas também ao conjunto da obra. as bases que ora passeiam pela discoteca, ora voltam seu olhar para um indie pop singelo fazem companhia à guitarra da garota que sabe como misturar bons riffs com composições que dizem muito sobre o cotidiano sem parecer falso ou forçado. Neste sentido ela se parece um pouco com St. Vincent, mas ainda assim soando bastante autêntica. Mitski entra num rol de cantoras da nova geração que já tem meninas do potencial de Sharon Van Etten, Elena Tonra, Cat Power, entre outras, que já faz jus a um momento totalmente voltada para elas. E enquanto essa qualidade estiver tomando conta tanto do mainstream quanto do mundo alternativo elas irão reinar por anos e anos.
1º Lugar – Courtney Barnett (Tell Me How You Really Feel)
Courtney Barnett já parece ter muito mais anos de carreira do que de fato tem e é difícil admitir que ela só está indo para o segundo álbum-solo, de fato. Dona de uma voz que passeia bem entre o indie folk, o indie rock e o rock cruzão a menina australiana já fez tanta coisa nesse pouco tempo de estrada, trabalhou em conjunto com o brother tão bom quanto ela Kurt Vile e ainda proporcionou momentos extasiantes em festivais e shows sozinha que é complicado perceber que a moça ainda tem muito a desenvolver ainda. Neste Tell Me How You Really Feel Courtney toca de forma apaixonada sua guitarra, é bem acompanhada por sua banda de apoio e nos presenteia com pequenas joias através das 10 canções do álbum. Uma mulher que reina no mundo alternativo mundial num cenário que neste ano foi inteiro delas mesmas. Um presente que pode se tornar um futuro mais fortalecido por causa de gente como ele própria que vai dando suporte para que outras garotas tenham empenho e empolgação para fazer arte como ela faz.